Raquel Landim

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Reportagem

Motta faz aceno a empresariado, que o recebe com otimismo e vigilância

O setor privado percebeu o aceno feito pelo novo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), logo em seu discurso de posse. Em conversas com a coluna, a percepção geral é um misto de otimismo e vigilância.

O otimismo fica por conta do compromisso com a estabilidade fiscal e com a tentativa de reduzir a polarização política no país.

"Não se pode mais discutir o óbvio. Nada pior para os mais pobres do que a inflação, a falta de estabilidade na economia. E a estabilidade é resultante de um conjunto conhecido e consensual de medidas de responsabilidade fiscal", discursou Motta.

"Não se apaga fogo com gasolina. Não existe uma nova matriz de combate ao incêndio", continuou, numa referência, ainda que velada, ao que ficou conhecido como nova matriz econômica do governo Dilma Rousseff.

Segundo as fontes ouvidas pela coluna, Motta dá sinais de que será uma continuidade de seu antecessor, Arthur Lira, na tentativa de avançar com a pauta das reformas.

"O Lira surpreendeu. Parece que ele também vai surpreender", disse um grande empresário.

Alguns líderes empresariais têm insistido até com o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva que é preciso avançar mais na área fiscal. Eles contam que Lula ouve, concorda nas conversas reservadas, mas, publicamente, resiste.

Uma das sugestões levadas ao presidente é a revisão dos benefícios concedidos pelo Bolsa Família e pelo Benefício de Prestação Continuada (BPC).

A percepção do setor privado atualmente é de que o aumento de juros é insuficiente para conter a inflação, mas pode comprometer o crescimento. Portanto, apenas o ajuste fiscal colocaria o país nos trilhos.

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Nesse sentido, Motta promete ser um interlocutor importante para temas econômicos.

Outro trecho do discurso que agradou o empresariado foi a crítica à polarização, já que o novo presidente da Câmara chega com o apoio da direita e da esquerda. Para uma parcela significativa do setor privado, a divisão ideológica do país impede o avanço de pautas relevantes.

"Não podemos continuar penalizando a nossa gente, porque não existe um caminho da direita, um caminho da esquerda ou um caminho do centro: existe apenas o caminho do Brasil", afirmou Motta.

Outros pontos do discurso, no entanto, provocaram divergências entre os empresários e incômodo.

Motta lembrou várias vezes Ulysses Guimarães, uma das figuras centrais da promulgação da Constituição de 1988 e da política brasileira, durante seu discurso.

"Não existe ditadura com parlamento forte. O primeiro sinal de todas as ditaduras é minar e solapar todos os parlamentos. Por isso temos que lutar pela democracia", afirmou.

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Segundo alguns empresários ouvidos pela coluna, a frase é perfeita, mas o problema é o contexto em que ela se insere.

Motta defende o crescimento das emendas parlamentares. Na sua visão, o Congresso apenas "recuperou suas prerrogativas". Ele promete, contudo, que vai dar mais "transparência".

"A impressão que a fala dele passa é que o Congresso quer o controle do Orçamento, e que qualquer um que se oponha a isso é antidemocrata. Precisamos estar vigilantes", afirmou um líder empresarial.

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