Raquel Landim

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Reportagem

Lula descarta novo ajuste fiscal até eleição pois não vê impacto no câmbio

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está convencido de que o pacote fiscal do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não teve qualquer impacto sobre a trajetória do câmbio, dos juros ou da inflação.

Conforme apurou a coluna, ele disse a auxiliares que o efeito foi nulo e que, por conta disso, não fará novas medidas de ajustes estruturais de gastos até as eleições presidenciais de 2026.

Ao contrário do que acontece no mercado, não existe, no Palácio do Planalto, a percepção de que o baixo impacto do pacote na trajetória do real se deve à divulgação atabalhoada das medidas de ajuste junto com a correção da tabela do IR.

Para o presidente, o governo entregou o ajuste possível. Porém, Lula avalia que os operadores financeiros ignoraram isso, e a moeda só começou a se valorizar quando a ameaça protecionista de aumento de tarifas do presidente americano, Donald Trump, arrefeceu.

É esse raciocínio que fez Lula dizer, publicamente em sua coletiva de imprensa na semana passada, que, "se depender de mim, não terá novas medidas" de ajuste fiscal.

Auxiliares do presidente afirmam ainda que o objetivo da equipe econômica hoje é cumprir a meta de superávit primário e não há urgência para estabilizar a dívida pública.

Eles acreditam que só haverá espaço para alguma nova reforma estrutural nos gastos após as eleições presidenciais, entre outubro e dezembro de 2026 — assim como ocorreu com a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) da transição.

"Não queremos colocar de novo esse tema na agenda e criar expectativas. Ao contrário do mito que se criou, não temos um Congresso fiscalista", disse uma fonte no Planalto, lembrando que os deputados acabaram desidratando o pacote de Haddad.

Pente-fino no BPC

A agenda de redução de despesas do governo, portanto, ficará focada em corte de gastos sem aprovação de novas leis no Congresso.

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Um dos exemplos desse esforço será o pente-fino que a administração pretende fazer no BPC (Benefício de Prestação Continuada).

Nos últimos anos, houve um crescimento explosivo do BPC. Em 2019, o governo gastava R$ 80,9 bilhões com o benefício. No ano passado, o valor saltou para R$ 112,6 bilhões.

A desconfiança é que exista hoje uma "indústria" de advogados especializados em levar as pessoas a pedir a ajuda, especialmente o BPC deficiência.

Preocupação do setor privado

A relutância do governo Lula em seguir com a agenda de corte de gastos preocupa o empresariado. A avaliação é que a política monetária se esgotou. Os juros altos estariam prejudicando o crescimento, sem conseguir combater a inflação.

E, sem a ajuda da política fiscal, não haveria espaço para o Banco Central voltar a reduzir juros.

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