Raquel Landim

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Reportagem

Trump reduz presidente dos EUA a bajulador de bilionário em entrevista

Donald Trump reduziu a figura do presidente dos Estados Unidos a um simples bajulador de bilionário numa entrevista conjunta constrangedora com Elon Musk ontem à noite na Fox News.

Não é incomum que presidentes americanos tenham assessores poderosos, mas todos com cargos centrais na Casa Branca, como o seu chefe de gabinete ou o chefe do Conselho de Segurança Nacional. Nem assim, dão entrevistas em conjunto com o "comander-in-chief".

Musk não tem esse papel na estrutura do governo. Ele coordena um departamento não oficial, chamado de "eficiência governamental", com poderes para acessar dados e interferir no funcionamento de órgãos do Executivo.

Também não acredito que presidentes são figuras que devem ser reverenciadas. Pelo contrário, precisam ser cobrados pela opinião pública, representada pela imprensa.

Nada mais distante do que aconteceu na Fox.

Trump qualifica Musk de "líder", um cara que "faz as coisas". Afirma ainda que "tentou encontrar alguém mais inteligente do que ele, mas não conseguiu".

E o que dizer do entrevistador que diz que seu objetivo é "estabelecer a natureza da relação entre os dois" e começa a conversa perguntando como Musk se sentia trabalhando de graça para alguém que o havia processado (no caso, a plataforma X) e ganhado US$ 10 milhões.

Ele parecia ter esquecido - aliás, todos ali passavam essa impressão - de que Trump, hoje, representa o governo americano.

E o âncora foi além: disse que se sentia "entrevistando dois irmãos".

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Pelo menos no trecho disponível na Internet, nenhuma pergunta sobre o profundo conflito de interesse que representa a proximidade entre o dono uma empresa de segurança, a Space X, e um governo com um orçamento bilionário de defesa.

"É realmente chocante. A impressão que dá é que o sistema de freios e contrapesos institucionais, que os 'pais fundadores' dos Estados Unidos debateram longamente durante a revolução e escreveram na Constituição, com o objetivo explícito de evitar que o presidente se comportasse como um rei absolutista, não está funcionando direito", disse à coluna um observar atento da cena política americana que vive no exterior.

Ontem, no entanto, Trump parecia muito mais um lacaio do bilionário tech do que um rei.

Vale ressaltar que Musk acumula muito poder no governo Trump, mas que não foi eleito, sabatinado pelo Senado - não passou por nenhum crivo das regras legais.

Os danos para a democracia nos EUA e no mundo serão severos. E também para o jornalismo.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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