Defesas vão usar contradições de general para rebater acusação de golpe
As defesas dos acusados de integrar o "núcleo crucial" da trama golpista pretendem usar as "contradições" do depoimento do ex-comandante do Exército general Freire Gomes para tentar enfraquecer os argumentos da PGR (Procuradoria-Geral da República).
Na visão dos advogados ouvidos pela coluna, Freire Gomes "baixou a temperatura", "não romantizou", "colocou uma música diferente".
As contradições do depoimento de Freire Gomes serão exploradas pelas defesas durante as sustentações orais e suas alegações finais.
Os advogados, no entanto, aguardam ainda a oitiva do ex-comandante da Força Aérea Baptista Júnior, prevista para esta quarta-feira (21), para terminar de montar a estratégia.
O "núcleo crucial" da trama golpista é aquele acusado de planejar a tentativa de golpe. Fazem parte o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem, o ex-comandante da Marinha Almir Garnier, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, o ex-ministro do GSI Augusto Heleno, o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira e o ex-ministro da Casa Civil Braga Netto.
"O que vale é o que ele [Freire Gomes] falou em juízo, com o crivo do contraditório. O que ele disse no depoimento à Polícia Federal não vale mais", afirmou um advogado.
Durante a audiência, o ministro relator Alexandre de Moraes chegou a alertar o general para o risco de ele ter "mentido" na Polícia Federal. "Ou o senhor falseou a verdade na polícia ou está falseando aqui", disse Moraes.
A bronca ocorreu quando Freire Gomes descrevia uma das reuniões, ocorrida em dezembro de 2022, na qual Bolsonaro teria descrito aos comandantes das Forças os planos para dar um golpe de Estado.
Freire Gomes afirmou no depoimento ao STF (Supremo Tribunal Federal) que o almirante Almir Garnier Santos "demonstrou respeito" a Bolsonaro, enquanto os demais chefes das Forças discordaram. "Não interpretei como nenhum tipo de conluio", disse o general.
Em depoimento à PF, Freire Gomes afirmou que Garnier apoiou a tentativa de golpe, enquanto ele e Baptista Júnior a rechaçaram.
Demóstenes Torres, advogado do almirante, afirmou à coluna que vai utilizar essa contradição, entre outras, na sua defesa escrita e oral.
"Na reunião do dia 7, Bolsonaro apresentou a ideia, mas ninguém falou nada. No dia 14, Garnier ficou calado. O depoimento do Freire Gomes desmoralizou a acusação", afirma o advogado.
Outro embate durante o depoimento ocorreu entre Moraes e o advogado do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, Eumar Novacki.
Moraes afirmou que o advogado estava "induzindo" a testemunha ao fazer "a mesma pergunta seis vezes". "Não vou permitir que se faça circo no meu tribunal".
Pessoas próximas a Torres afirmam que o general deixou claro que nunca esteve com Torres e que não sabe explicar de quais reuniões ele participou.
Na denúncia da PGR, Torres é descrito como o "mentor jurídico" do golpe, que aconselhava Bolsonaro.
Procurado, Novak não deu entrevista.
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