Raquel Landim

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Opinião

Isolamento de Haddad transforma Motta e Alcolumbre em bombeiros do governo

O isolamento político do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT-SP), transformou os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, David Alcolumbre (União-AP), em "bombeiros" do governo.

Eleitos por partidos de centro-direita e por bases evangélicas e ruralistas, coube a eles "jogar água na fervura" e ganhar dez dias de prazo para que a Fazenda apresente uma nova proposta para fechar as contas, evitando assim uma dolorosa derrota para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Motta estava muito pressionado pelo setor produtivo e financeiro e pelos congressistas, que votariam em peso pelo projeto de decreto legislativo que derrubaria o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) implementado por Haddad.

Ele deu declarações inflamadas em defesa de corte de gastos e contra o aumento de arrecadação.

Criticou as "gambiarras tributárias" e defendeu a necessidade do governo "definir medidas estruturantes", como revisão de benefícios fiscais, desvinculação de receitas e o andamento da reforma administrativa, que transformou numa bandeira de sua presidência.

Mas deixou portas abertas. Na mesma coletiva de imprensa, Motta afirmou que a solução de "2025 não precisa ser a mesma de 2026", o que já é uma senha para alterar o decreto, quem sabe mantendo o IOF neste ano e apontando alternativas para o ano que vem.

Haddad havia sinalizado em reunião na noite anterior que não consegue cortar gastos neste ano.

E por que Motta e Alcolumbre se esforçaram para apaziguar os ânimos?

Eles têm muitos interesses não só na distribuição de emendas e de cargos, mas também em não deixar o país parar.

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É muito provável que a crise se resolva com algum compromisso político entre Executivo e Legislativo. Convém também que deixe algumas lições sobre os graves desafios enfrentados pelo ministério da Fazenda.

O primeiro é de conteúdo. Refletindo um anseio da sociedade, o Congresso não aceita mais que as contas sejam fechadas por meio de aumento de arrecadação —nem mesmo quando isso é feito por meio de um imposto regulatório sobre o qual não teria ingerência.

Trata-se de uma sinuca para Haddad, porque o restante do governo não quer nem ouvir falar em corte de gastos. E isso inclui o ministro da Casa Civil, Rui Costa, a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, e o próprio Lula. As eleições de 2026 estão chegando.

O segundo é de forma. O ministro não consultou ninguém para implementar o IOF —nem mesmo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, seu antigo aliado. Não ouviu o setor produtivo e financeiro. Não consultou Motta, Alcolumbre e o parlamento. Num governo de minoria, isso não é mais possível.

Não adianta depois recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) e alegar inconstitucionalidade. Em teoria, dá para fazer. Na prática, "é tocar fogo no país" —como disse o próprio Motta.

Se esses dois problemas não forem resolvidos, o que assistiremos é Haddad cada vez mais cansado e isolado. Seu choro hoje no evento no Paraná não vem à toa.

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Só que vale uma lembrança ao setor privado, que está atirando sem dó no ministro.

Dentro do governo, ele é praticamente o único com compromisso com as contas públicas e com disposição para o diálogo. Além disso, não compactua com a corrupção.

Seus opositores, que não economizam no "fogo amigo", estão enrolados em suspeitas de falcatruas até o pescoço.

O Poder e Mercado é exibido terças e quintas, às 20h, com apresentação de Raquel Landim e comentários de Mariana Barbosa e Graciliano Rocha. O programa de política e economia chega para conectar os grandes temas do Congresso Nacional a seus impactos no mercado financeiro e no dia a dia das pessoas.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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