Raquel Landim

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Opinião

Trump força Irã a negociar programa nuclear ou quer derrubar os aiatolás?

Qual foi o real objetivo de Donald Trump ao entrar na guerra ao lado de Israel e bombardear o Irã?

Forçar os iranianos a fazer concessões na mesa de negociação e efetivamente desmantelar seu programa nuclear? Ou o mandatário americano quer ir além e derrubar a teocracia do regime dos aiatolás?

Essas perguntas estão em suspenso desde ontem à noite (21), quando Trump abandonou a retórica inflamada e partiu para a ação, bombardeando três instalações nucleares iranianas: Fordow, Natanz e Isfahan.

O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, garantiu que não se trata de uma ação para "mudança de regime".

"A missão não foi sobre mudança de regime. O presidente autorizou uma operação precisa para neutralizar os perigos para os nossos interesses nacionais colocados pelo programa nuclear iraniano", afirmou em coletiva de imprensa.

Analistas ouvidos pela coluna concordam que, neste momento, o objetivo pode ser realmente forçar os iranianos a aceitar um acordo nuclear melhor do que aquele assinado pelo ex-presidente Barack Obama do qual o próprio Trump recuou durante seu primeiro mandato.

Na visão de um especialista, a Casa Branca teria autorizado o ataque aéreo para mudar as bases do acordo. Os negociadores americanos desejam que os iranianos discutam enriquecimento zero de urânio (algo que o Irã nunca aceitou) e não limites para o enriquecimento.

"Trump está mostrando que é durão. Disse que o Irã não vai ter armas nucleares e, quando Israel forçou a barra, teve que agir. Ele quer ser visto como o cara que destruiu o programa nuclear do Irã", disse um experiente negociador, que pediu anonimato.

O problema desse tipo de estratégia é que pode rapidamente sair de controle, dependendo da capacidade de resposta iraniana.

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Os americanos então teriam que partir para uma espécie de "plano B", eliminando lideranças locais, fomentando uma insurreição interna, que eventualmente culminaria na queda do regime.

Essa opção tem limitações, porque Trump não quer utilizar tropas americanas, como nos casos do Iraque ou do Afeganistão, o que seria um suicídio político.

"Trump quer ser o único presidente americano que conseguiu acabar com o programa nuclear iraniano e, talvez, recuperar o Irã para a órbita dos Estados Unidos", disse à coluna Hussein Kalout, ex-secretário especial de assuntos estratégicos da Presidência da República. "Não sei se ele vai conseguir, mas essa é a intenção", completou.

PETRÓLEO

Para o Brasil, uma das consequências práticas mais importantes é o impacto da escalada do conflito no preço do petróleo.

O Parlamento iraniano aprovou neste domingo (22) o fechamento do estreito de Ormuz, por onde circulam 20% da demanda mundial de petróleo e gás global.

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Analistas alertam, no entanto, que é preciso cautela.

Numa teocracia, o parlamento não manda nada e a decisão está pendente da aprovação do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã - ou seja dos aiatolás.

O fechamento do estreito teria que ser feito pela Marinha iraniana, que pode ser abatida com relativa facilidade por caças americanos.

Os preços do petróleo, portanto, podem sofrer um abalo inicial, com forte aumento, mas depois recuariam. A conferir.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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