Turma anti-Nubank prefere agonia do Centro a admitir ignorância
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Parem o Nubank! O banco não foi pro Centro, mas uma barulhenta e minúscula esquerda-soviética está em pânico. Supostamente, o Nubank não deixará qualquer espaço para a criação de moradia popular na região, segundo a versão PSTU dos urbanistas.
Preocupar-se com a baixa renda, não só para mitar, requer estudo e alguma familiaridade com números. Nas contas desse pessoal de Humanas, se três edifícios forem ocupados pelo banco roxinho, os outros 400 imóveis vazios no Centro ficarão inutilizados.
Será que eles sabem que uma enorme parcela dos prédios vazios do Centro pertence ao governo federal, ao INSS, ao governo do estado, à prefeitura, a estatais (como os Correios), à Santa Casa e à Igreja Católica? Por que, sem o Nubank, esses prédios nunca viraram lindos conjuntos habitacionais?
O Centro é grande. O Nubank não vai impedir que moradia popular surja no Brás, no Glicério, no Parque Dom Pedro, no Bom Retiro. O Centro não é só de locais caros que essa turminha frequenta. Se com o rodízio híbrido o Nubank mandar para lá 2.000 funcionários, vai ajudar o comércio na área imediata onde se instalar. Nenhum cataclisma.
Arquitetos não teóricos sabem que muitos prédios vazios no Centro jamais conseguirão virar residenciais. A planta é injusta: tem um elevador no meio, a dezenas de metros da primeira janela disponível; não dá para se abrir um clarão, nem ampliar a hidráulica para dezenas de novos banheiros ou cozinhas. Escada de bombeiros externa ou elevadores externos? Caros demais para um condomínio. Se fosse fácil, Marta, Serra, Haddad, Kassab, Doria ou Bruno teriam entregue muitos, não?
[Há longas reportagens sobre a dificuldade dessa conversão de prédios corporativos na imprensa americana. Mas esperar que muitos urbanistas leiam, ainda mais em inglês, é mais inocente que esperar que o Minha Casa Minha Vida exija boa arquitetura]
E tem nossos tombamentos, morosos, burocráticos. Ou de análises feitas por técnicos meio perdidos ou ideólogos que não querem "mercado imobiliário" (que é quem constrói apartamentos), e só querem museu. A mesma turminha ignora que condena o Nubank no Centro comemorou quando o antigo Mappin foi comprado pelo Sesc. Ou quando a antiga Mesbla virou Sesc 24 de Maio. Não viraram moradia.
Retrofit barato
Basta um rápido passeio pelo calçadão da Rua São Bento para ver que quase 50% das lojas estão fechadas. O incrível sucesso econômico de Lula não conseguiu reabrir nada por ali. Os restaurantes que fecharam no Largo de São Francisco ou na rua do Seminário, idem. As dezenas de lojinhas das galerias Sete de Abril, Califórnia e do Reggae, idem. Nenhuma tinha produto caro, que o presidente mandou trocar. Se o Centro anda tão vivo e movimentado quanto argumenta a turminha dos blocos de Carnaval, como todos esses negócios morreram? Para quem vive de mesada, algumas rodinhas de samba e bares hipsters são "movimento" suficiente.
Os governos petistas já investiram, desde 2008, cerca de R$ 500 bilhões no programa Minha Casa, Minha Vida, que enriqueceu várias construtoras, como MRV, Cury, Direcional e Tenda. Nenhuma preocupada com arquitetura ou urbanismo. Estranhamente, o governo federal nunca teve a iniciativa de criar uma linha de crédito para reformas ou restauros de prédios vazios ou históricos para virarem moradia.
Ao contrário, em agosto do ano passado, Lula decidiu reduzir o dinheiro para imóveis usados no MCMV. Toda prioridade para se construir conjuntos habitacionais bem longe do Centro, e ajudar as empreiteiras amigas. Você não sabia?
Tanto quando o Sesc 24 de Maio, quanto o Farol Santander se instalaram no Centro, os mesmos "especialistas" previram que haveria "gentrificação na área". Não acertam uma: continuaram tão apodrecidos e inseguros que nem movimentos de moradia se animam a ocupá-los.
O urbanismo é pobremente ensinado nas faculdades brasileiras. Diz-se que o ideal é ter bairros mistos, de renda, de usos. Mas, na prática, alguns "professores" detestam a ideia de mistura. Vai que funcionários do Nubank começam a conviver no Centro? Que horror.
Os gentrificadores
Como hipocrisia pouca é bobagem, quem mais grita contra a vinda de profissionais com salários mais altos pro Centro são os herdeirinhos que não saem dos lugares mais caros do Centro. Sim, os gentrificadores pole position. Os bonitinhos que dizem "Nubank atrai rico", mas que só frequentam o Z-Deli, no IAB, a caríssima Escola da Cidade, a Pivô, a À Mercê, a Tokyo ou a livraria Eiffel.
Nessa hipocrisia muito premiada em São Paulo, teve até artigo na Folha de S.Paulo atacando a Casa do Porco por ter "janelão grande na cozinha", "fazendo mal pra quem passa fome no Centro". Se a Casa do Porco estivesse no rico bairro de Pinheiros, não sofreria esse tipo de ataque vagabundo.
Muita gente me criticou pela coluna da semana passada, em que sugeri que o Nubank instalasse sua prometida nova sede no Centro. As mesmas pessoas que criticam o projeto do governo estadual de ir "gentrificar" os Campos Elíseos, calaram-se quando seu líder construiu, destruiu e voltou a construir estádios pelo país inteiro, no programa Minha Empreiteira, Minha Vida. Só os monotrilhos, de São Paulo a Cuiabá, jamais foram entregues. Obra para trabalhador não foi prioridade antes, nem agora. Imagino se Bolsonaro fosse construir um estádio em Itaquera ou zona oeste do Rio, e o escândalo que fariam. Vai gentrificar Itaquera!!! Mas, adestrados que são, calam-se.
É triste ver que muitos desses "urbanistas" e arquitetos da bancada do ressentimento, que não arrancam um carguinho sequer nem do próprio governo federal, nem do Ministério das Cidades, boicotem qualquer iniciativa positiva. São gente que esteve em prefeituras diversas Brasil afora, dos anos 1980 para cá, e sempre entregaram muito pouco. Se tivessem um espelho, ou um terapeuta, perguntariam por que nas 27 capitais há apenas um prefeito de esquerda. E que está longe de ser um militante contra o mercado, claro. Longe do PCO acadêmico paulistano. Ao contrário de prefeitos de esquerda em Lisboa, Paris ou Cidade do México, a militância no Brasil é o "deixa tudo como está".
Nem com campanha de Lula, nem com jornalista saltitante na TV paga, o munícipe quer ver no comando das prefeituras gente que só espanta investimentos e que só entende de diagnóstico, zero de ação. Mas não, eles não se analisam. E continuarão a ser os melhores cabos eleitorais de Trump e suas cópias. Afinal, essa turma populista da direita promete algum crescimento econômico de fato. Nossos populistas de esquerda há tempos são divorciados de qualquer sonho. Para eles, que fique tudo como está.
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