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Reinaldo Azevedo

Weintraub: E se o analfabeto (dis)funcional for, de fato, um espertalhão?

Colunista do UOL

27/01/2020 17h04

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Abraham Weintraub, ministro da Educação, colheu uma notícia falsa numa dessas páginas que compõem o esgoto em que transitam ele próprio e outras pestilências morais, e resolveu saudar a minha suposta demissão da BandNews FM. Como ele e outros chegaram a essa conclusão? Ora, não fui trabalhar na sexta-feira...

Mas ele foi além. Fez uma indagação que esqueceu de ter sentido, a exemplo de tudo o que sai daquela mente perturbada:
"Será que após os gastos milionários do Estado de São Paulo (Doria/PSDB) com rádios privadas, esta pessoa [eu] terá dificuldade de se recolocar? Vejam, paulistas, como o dinheiro do seu IPVA é "bem" aproveitado".

Estamos encerrando o primeiro mês do segundo ano do mandato do presidente Jair Bolsonaro. E a delinquência pré-eleitoral já atinge o nível da injúria e da difamação.

Pouco depois, vejam acima, Weintraub voltou ao tuíte e escreveu:
"Peço desculpas, pois, aparentemente, é uma fakenews difundindo uma demissão que não ocorreu. Sei bem o que é isso. Hoje em dia, não podemos confiar em certos veículos de desinformação..."

Weintraub precisa se entender com seus pares de esgoto moral. Setores não muito iluminados do petismo é que me acusavam de tucano quando o PT estava no poder. Até hoje, há uns tontos que afirmam, por exemplo, que só me indispus com a Lava Jato quando ela chegou ao PSDB. É mesmo? Perguntem a Lula, ora...

A acusação que a extrema-direita a soldo faz contra mim é outra. Eu teria me convertido ao petismo. Afinal, vivo cobrando até de Sergio Moro que aponte em página de sua sentença está a provada contra Lula que justifique a denúncia feita pelo Ministério Público Federal. Ele não responde porque não sabe. E ninguém seria capaz de achá-la porque inexiste. A defesa do estado de direito, no mundo dos brucutus, virou coisa de "esquerdista".

E assim vamos.

O desastre em curso no Enem não se dá, obviamente, por acaso.

Um ministro de Estado, titular da pasta que detém a segunda maior fatia do orçamento, dá-se ao desfrute de reproduzir o lixo que encontra na Internet, associando uma notícia falsa à guerrilha eleitoral, que chega com quase três anos de antecedência. E vai permanecer no cargo.

Se e quando eu sair da rádio, será um assunto entre privados. Weintraub é um gestor de verba pública. As escolhas que faz afetam o Estado brasileiro e dizem respeito à vida de milhões de pessoas. Mais ainda: minhas opiniões não precisam buscar um alcance universal. Opinar, no fim das contas, é fixar um ponto de vista que gera, necessariamente, reação adversa.

Um governante, por dever moral e funcional, tem de falar para todos. Exerce a sua função para os que votaram no governo de turno e para os que não votaram.

Não é o analfabetismo (dis)funcional de Weintraub que o impede de ser um homem de Estado. É seu analfabetismo político, moral, ético.

COMPUTADORES
Para lembrar: o Ministério da Educação é aquele que anunciou um pregão eletrônico em agosto para comprar 1,3 milhão de notebooks e laptops ao custo de R$ 3 bilhões. Uma beleza. Descobriu-se que, segundo os dados que orientaram o dito-cujo, como escreveu Elio Gaspari, "os 255 alunos da Escola Municipal Laura Queiroz, de Itabirito (MG), receberiam 30 mil laptops (118 para cada um). Poderia ter sido um erro de digitação, mas a CGU mostrou que 355 escolas receberiam mais de um laptop por aluno, e 46 delas, mais de dois. Cada jovem da Chiquita Mendes, de Santa Bárbara do Tugúrio (MG) receberia cinco."

Houve uma demissão, mas ficou por isso mesmo. Sorte que a CGU resolveu enroscar com a farra.

Weintraub, claro, não tem tempo para averiguar ninharias de R$ 3 bilhões.

Tem de dedicar seu tempo a fazer fofoca no Twitter, comportando-se como um palhaço amador.

Resta saber se estamos diante de uma manifestação de alienação da realidade ou se é apenas despiste.

Há o risco de Weintraub não ser apenas um incompetente amalucado. Vai que seja um espertalhão, o que não é incompatível com a sua condição de analfabeto funcional...

O tempo dirá, não é mesmo, ministro?