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Reinaldo Azevedo

Bolsonaro conta 2 mentiras grotescas sobre vídeos de apoio a ato golpista

Frame de vídeo que Bolsonaro diz ser de 2015 refere-se a ele como... presidente da República. Em 2015??? - Reprodução
Frame de vídeo que Bolsonaro diz ser de 2015 refere-se a ele como... presidente da República. Em 2015??? Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

28/02/2020 07h02

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Que o presidente Jair Bolsonaro fala o que lhe dá na telha, sem qualquer compromisso com os fatos, com a lógica, com a língua, com a moral, com a boa educação, com os bons costumes... Bem, não há nisso grande novidade. Optar, no entanto, pela mentira mais descarada — que só pode mesmo mobilizar a súcia de idiotas que o aplaudem por princípio —, bem, aí já é de lascar e só contribui para desmoralizar o país, assustar investidores e atrair o apoio de pistoleiros disfarçados de empreendedores destes novos tempos...

Tanto na entrevista que concedeu ontem às portas do Palácio da Alvorada como na malfadada "live" desta quinta, Bolsonaro voltou a atacar a jornalista Vera Magalhães, do Estadão — chegou a cobrar dela que tenha "vergonha na cara" —, e apelou a duas mentiras grotescas. Sim, é preciso ter vergonha na cara!

Segundo o presidente, Vera teria afirmado que ele próprio gravou vídeos convocando para os protestos do dia 15. Isso nunca aconteceu. A informação, correta e confirmada, tornada pública pela jornalista dava conta de que o presidente havia passado adiante, via WhatsApp, vídeos que faziam a convocação para os atos.

E, como ele mesmo admite, fez isso.

Mas achou que uma mentira era coisa pouca. Sabem como é esse negócio de vergonha na cara — ou da falta dela. Então veio a outra. Segundo o presidente, os vídeos se referem a 15 de março de... 2015.

Transcrevo trecho de um deles. Ao som do Hino Nacional, uma daquelas vozes com entonação de mela-cueca golpista, afirma o seguinte:
"Ele foi chamado a lutar por nós. Ele comprou a briga por nós. Ele desafiou os poderosos por nós. Ele quase morreu por nós. Ele está enfrentando a esquerda corrupta e sanguinária por nós. Ele sofre calúnias e mentiras por fazer o melhor para nós. Ele é a nossa única esperança de dias cada vez melhores. Ele precisa de nosso apoio nas ruas. Dia 15 de março, vamos mostrar a força da família brasileira. Vamos mostrar que apoiamos Bolsonaro e rejeitamos os inimigos do Brasil. Somos, sim, capazes, e temos um presidente trabalhador, incansável, cristão, patriota, capaz, justo, incorruptível. Dia 15 de março, todos nas ruas apoiando Bolsonaro".

Entre as imagens que ilustram a estupidez, está a da facada.

Bolsonaro precisa nos apresentar a pessoa que fez esse vídeo há três anos, não é? Não só adivinhou que ele levaria uma facada três anos depois como anteviu que seria presidente da República.

Sim, é uma questão de vergonha na cara. Ou da falta dela.

Sem contar que nem é preciso ser muito sagaz para notar que se tenta associar a figura de Bolsonaro à do próprio Jesus Cristo.

Imaginem... Ele é nosso Salvador.

Um Cristo que faz sinal de arma com as mãos, que defende e justifica a tortura, que quer arrancar do Congresso licença para matar, que não tem receio de apelar a mentiras as mais descaradas.

Fico pensando naqueles vetustos senhores de quatro estrelas que o cercam, todos afinados com a, como é mesmo?, defesa da pátria.

Defesa da pátria? Contra quem?

Ah, sim: emendado com o ataque a Vera, veio a esperança. Bolsonaro agora parece apostar suas fichas no jornalismo da CNN Brasil, que, parece, ele tem a certeza de que será sério segundo seus critérios.

Donald Trump, seu amigo de fé, irmão, camarada, trata a CNN dos EUA mais ou menos como ele trata a Folha por aqui.

Que abordagem o presidente imagina que a CNN Brasil fará de seus vídeos e de suas mentiras ou do "foda-se" do general Heleno?

Correção: no post, a frase "Bolsonaro precisa nos apresentar a pessoa que fez esse vídeo há três anos, não é? Não só adivinhou que ele levaria uma facada três anos depois como anteviu que seria presidente da República." foi corrigida. Originalmente constava dela "cinco anos", o que não está em conformidade com o ano de 2015 alegado pelo presidente.