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Reinaldo Azevedo

O que sente um general decente sendo parceiro de um agitador de quartéis?

As quatro estrelas de um general de Exército. Esses homens que chamam país de "pátria" para evidenciar um compromisso não deveriam voltar para seus quarteis ou clubes? Não podem ser patrocinadores da bagunça em nome da defesa da pátria - Reprodução
As quatro estrelas de um general de Exército. Esses homens que chamam país de "pátria" para evidenciar um compromisso não deveriam voltar para seus quarteis ou clubes? Não podem ser patrocinadores da bagunça em nome da defesa da pátria Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

03/03/2020 08h26

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Fico cá a me perguntar: será que os vetustos oficiais generais das Três Forças, da ativa e da reserva, no governo ou fora dele, não se dão conta da patuscada em que se meteram?

Vejam o caso da greve da Polícia Militar do Ceará. Além de agredir de modo flagrante a Constituição, resta evidente que se trata de um movimento de cunho político. A realidade salarial da PM não é especialmente ruim — muito pelo contrário! —, e, dada a realidade do Estado, os policiais podem se dizer privilegiados.

Mesmo assim, o movimento eclodiu com a virulência que se viu. Há um trabalho de agitação nas PMs de modo pronunciando em pelo menos dez Estados. Os nossos quatro-estrelas acham razoável que um presidente da República, na prática, se solidarize com uniformizados armados, hostilizando, como fez, quem os enfrenta?

E agora? O que vai acontecer com o coronel Aginaldo de Oliveira, que comanda a Força Nacional de Segurança, parceria das Forças Armadas nas operações de Garantia da Lei e da Ordem? Mais: por determinação constitucional, as PMs são reservas do Exército. Permanecerá à frente daquela polícia especial um coronel que vê em grevistas armados verdadeiros "gigantes", exemplos incontestáveis de "coragem"?

É isso que os nossos generais entendem por patriotismo, ordem e paz social?

Ah, vetustos senhores! É claro que a história, um dia, vai lhes apresentar a conta.

A possibilidade de que a Força Nacional de Segurança seja chamada a atuar em circunstâncias semelhantes, em outros Estados, é grande. Lá estará Aginaldo, pronto a aplaudir os amotinados?

O coronel é um subordinado do ministro da Justiça, Sergio Moro. Presume-se que o ex-juiz recebesse, então, informações privilegiadas sobre o que se passava entre os amotinados. Em vez de chegar aos grevistas criminosos a voz de um governo que deveria intimidá-los com a força da lei, o que se tinha era um braço do Ministério da Justiça atuando como agitador de quartéis.

"Ah, o coronel foi inteligente. Ao fazer aquele discurso, ele apaziguava os ânimos..." Uma ova! Estava se aliando a homens armados que rasgavam a Constituição.

Fato que parece, agora, evidente: o governo federal atuou no Ceará para manter a greve, não para lhe pôr um fim. Os ditos grevistas — na verdade, criminosos — só recuaram quando lhes chegou a informação de que o governador Camilo Santana, se preciso, recorreria à Justiça para manter a operação de Garantia da Lei e da Ordem, o que o Supremo ordenaria, sim, com ou sem a anuência de Jair Bolsonaro.

Digam-me cá, senhores generais — e a pergunta é especialmente dirigida ao general Augusto Heleno, chefe do Gabinete da Segurança Institucional: um quatro-estrelas com um mínimo de responsabilidade e compromisso com o país — "Pátria", como vocês gostam de dizer — sente-se confortável tendo um agitador de quartéis à frente da Força Nacional de Segurança? É esse o padrão de moralidade superior que muitos de vocês veem nos uniformizados quando cotejados com civis?

Vocês não sentem um pouco de vergonha, um tantinho que seja? Não! Refaço a pergunta: vocês não experimentam uma BAITA vergonha, sabedores que são, certamente, de que boa parte do que vocês veem afronta conceitos mínimos de honra, de disciplina, de eficiência?

Ou o "novo Brasil" nascerá, senhores, do ventre de quartéis amotinados, sob ao olhar cúmplice do ministro da Justiça?

Como? Estaria eu pedindo intervenção militar ou golpe?

Não, caros! É precisamente o contrário: exorto os senhores militares a voltar ou para a caserna (os da ativa) ou para seus clubes, se na reserva.

Saiam do hospício e deem início a um trabalho de descontaminação ética e moral das Três Forças.