O que sente um general decente sendo parceiro de um agitador de quartéis?
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Fico cá a me perguntar: será que os vetustos oficiais generais das Três Forças, da ativa e da reserva, no governo ou fora dele, não se dão conta da patuscada em que se meteram?
Vejam o caso da greve da Polícia Militar do Ceará. Além de agredir de modo flagrante a Constituição, resta evidente que se trata de um movimento de cunho político. A realidade salarial da PM não é especialmente ruim — muito pelo contrário! —, e, dada a realidade do Estado, os policiais podem se dizer privilegiados.
Mesmo assim, o movimento eclodiu com a virulência que se viu. Há um trabalho de agitação nas PMs de modo pronunciando em pelo menos dez Estados. Os nossos quatro-estrelas acham razoável que um presidente da República, na prática, se solidarize com uniformizados armados, hostilizando, como fez, quem os enfrenta?
E agora? O que vai acontecer com o coronel Aginaldo de Oliveira, que comanda a Força Nacional de Segurança, parceria das Forças Armadas nas operações de Garantia da Lei e da Ordem? Mais: por determinação constitucional, as PMs são reservas do Exército. Permanecerá à frente daquela polícia especial um coronel que vê em grevistas armados verdadeiros "gigantes", exemplos incontestáveis de "coragem"?
É isso que os nossos generais entendem por patriotismo, ordem e paz social?
Ah, vetustos senhores! É claro que a história, um dia, vai lhes apresentar a conta.
A possibilidade de que a Força Nacional de Segurança seja chamada a atuar em circunstâncias semelhantes, em outros Estados, é grande. Lá estará Aginaldo, pronto a aplaudir os amotinados?
O coronel é um subordinado do ministro da Justiça, Sergio Moro. Presume-se que o ex-juiz recebesse, então, informações privilegiadas sobre o que se passava entre os amotinados. Em vez de chegar aos grevistas criminosos a voz de um governo que deveria intimidá-los com a força da lei, o que se tinha era um braço do Ministério da Justiça atuando como agitador de quartéis.
"Ah, o coronel foi inteligente. Ao fazer aquele discurso, ele apaziguava os ânimos..." Uma ova! Estava se aliando a homens armados que rasgavam a Constituição.
Fato que parece, agora, evidente: o governo federal atuou no Ceará para manter a greve, não para lhe pôr um fim. Os ditos grevistas — na verdade, criminosos — só recuaram quando lhes chegou a informação de que o governador Camilo Santana, se preciso, recorreria à Justiça para manter a operação de Garantia da Lei e da Ordem, o que o Supremo ordenaria, sim, com ou sem a anuência de Jair Bolsonaro.
Digam-me cá, senhores generais — e a pergunta é especialmente dirigida ao general Augusto Heleno, chefe do Gabinete da Segurança Institucional: um quatro-estrelas com um mínimo de responsabilidade e compromisso com o país — "Pátria", como vocês gostam de dizer — sente-se confortável tendo um agitador de quartéis à frente da Força Nacional de Segurança? É esse o padrão de moralidade superior que muitos de vocês veem nos uniformizados quando cotejados com civis?
Vocês não sentem um pouco de vergonha, um tantinho que seja? Não! Refaço a pergunta: vocês não experimentam uma BAITA vergonha, sabedores que são, certamente, de que boa parte do que vocês veem afronta conceitos mínimos de honra, de disciplina, de eficiência?
Ou o "novo Brasil" nascerá, senhores, do ventre de quartéis amotinados, sob ao olhar cúmplice do ministro da Justiça?
Como? Estaria eu pedindo intervenção militar ou golpe?
Não, caros! É precisamente o contrário: exorto os senhores militares a voltar ou para a caserna (os da ativa) ou para seus clubes, se na reserva.
Saiam do hospício e deem início a um trabalho de descontaminação ética e moral das Três Forças.