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Reinaldo Azevedo

Beijo de morte da Hole Family: Dudu Bananinha derruba seu escolhido no BBB

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Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

01/04/2020 09h03

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Cuidado! Se alguém da "Hole Family" tentar ajudá-lo, é melhor fugir.

A vida não está fácil para o bolsonarismo. A turma anda perdendo até paredão do BBB. Fuja deles, ou eles o arrastam para o buraco.

Passava da meia-noite, estava eu aqui lendo o noticiário e fazendo algumas anotações, e eis que mais uma vez as sacadas explodem aos berros, entre a fúria e o êxtase. Havia pouco, o pronunciamento de Bolsonaro fora acompanhado de um panelaço sem igual na minha memória.

Saí do escritório e perguntei a uma das minhas filhas que diabo estava acontecendo. Ela me explicou rapidamente. Felipe Prior, um dos participantes do BBB, havia perdido a parada para Manu Gavassi. Num paredão triplo, eles polarizaram a atenção do público. A terceira participante obtivera apenas 0,76% dos votos.

Os amores e ódios se concentraram mesmo em Prior e Manu. Ele acabou levando a pior e deixou o programa com 56,73% dos votos; sua oponente ficou 42,51%. Não acompanho o BBB. Não falo por esnobismo. É que não tenho tempo mesmo. Acho, sim, que o programa pode traduzir ou refletir recortes interessantes do país. Parece ter sido o caso.

Com boa parte dos brasileiros em casa, em confinamento, agarrados às redes sociais, o programa contou com uma participação recorde do público no mundo: 1.532.944.337 votos. Tudo indica, no entanto — e também sugeriram as sacadas e janelas —, que houve outras motivações.

O tal Prior, me dizem, integrou uma leva de "chernomachos", de "machos tóxicos" (alusão a Chernobyl), que não teriam economizado na expressão do machismo, da misoginia e, às vezes, da cafajestagem. Foram sendo expulsos do programa pelo público. Resta, segundo as respostas que me foram dadas pelo Google, um único homem: Babu. É ator, negro, pobre e mora numa favela. Vão pensando aí...

Prior, consta, contou com a sorte, mas foi mudando o seu perfil ao longo dos dias à medida que os homens iam deixando o programa. Seria, ademais, um jogador inteligente. O machismo tóxico, no seu caso, foi se transfigurando em sinceridade. Na convivência com mulheres já educadas pelo feminismo, ele teria se mostrado disposto a aprender novos códigos de conduta. Se não for bem assim, peço escusas. É como entendi a coisa. Até porque vou falar sobre política, não sobre BBB.

Manu, uma "influencer" — não sei bem o que é isso, mas dizem existir —, seria o oposto do rapaz: feminista, politicamente correta, preocupada com os "lugares de fala", atenta ao discurso das minorias, descolada...

Se não havia exatamente um confronto entre direita e esquerda, pode-se dizer que se enfrentavam franjas de uma visão de mundo, vá lá, conservadora — ainda que o conservadorismo da inércia, da preguiça — e de outra progressista; nesse caso, um progressismo militante, consciente.

Há, claro!, as picuinhas que apimentam a coisa. Manu é amiga de Bruna Marquezine, que passou a pedir apoio para a "brother". Não deu outra: Neymar resolveu fazer de Prior um "parça". Outros jogadores o seguiram. Broderagem virtual. Os que dizem odiar o pensamento "politicamente correto" — expressão que precisa ser repensada — alinharam-se com o rapaz; os que consideram que a correção da linguagem integra o esforço civilizatório ficaram com a moça.

O resultado era incerto. Consta que os dois vinham ali num possível empate técnico. Até o beijo da morte. Ou o beijo da Família Buraco.

EDUARDO HOLE FAMILY
Eduardo (Hole Family) Bolsonaro resolveu testar a sua influência -- e a do bolsonarismo -- numa votação do BBB. Escreveu no Twitter para o seu rebanho:
"Não assisto o BBB, mas tenho observado algo, marcaram-me em vários posts sobre isso.
Tem uma militante de esquerda concorrendo com um cara que é politicamente incorreto e ganhou apoio de quem odeia mimimi, muitos jogadores de futebol, por exemplo.
Então, BOA SORTE PRIOR"

Sei lá se o tal Prior votou ou não em Bolsonaro, coitado! O fato é que, ao ser adotado, à sua revelia, pelo bolsonarismo, acabou sendo alvo, nem poderia ser diferente, do antibolsonarismo. Tivesse essa turma simpatia ou não por Manu, o fato é que a moça passou, então, a representar, vejam só, um "Fora Bolsonaro". O som das sacadas e janelas chegou ao BBB, o que, convenham, faz desta edição do programa a mais bem-sucedida da história. A pretensão sempre foi que humanos, uma vez confinados — eles lá e a gente aqui —, revelem o seu pior e o seu melhor, o nosso pior e o nosso melhor.

A linguagem a que apela Eduardo é típica dos ignorantes arrogantes. Ninguém se qualifica por ser "politicamente incorreto" — e nem sei se é o caso do concorrente que deixou o BBB. Os que há mais de duas décadas combatíamos, e fui um deles, o pensamento "politicamente correto" apontávamos em certas patrulhas de correção um viés que remetia à censura. Esse debate ainda é relevante hoje. Mas foi contaminado por essa direita burra e asquerosa.

Se o combate à patrulha da correção política como uma forma de censura dizia respeito à liberdade de expressão, o enaltecimento do politicamente incorreto por si, como se fosse uma virtude, é coisa de cretinos. O ataque fascistoide a minorias, por exemplo, passou a ser visto como forma de combater o "politicamente correto". Chegou a hora de aposentar essas categorias. Proponho acolher o "politicamente informado".

DE VOLTA AO CASO
Sim, Eduardo Hole Family Bolsonaro resolveu propor um embate nas redes não exatamente entre direita e esquerda, mas entre "bolsonarismo" e "antibolsonarismo". Isso não quer dizer que o total de votos de cada um derive dessa clivagem. Muitos milhões de cada lado fizeram as suas escolhas antes de Dudu meter a sua bananinha na votação.

Mas, como se sabe, os Bolsonaros não anseiam apenas ser uma nova aristocracia da política brasileira. Eles têm a pretensão de ser uma categoria de pensamento. Foram para o confronto e perderam.

Prior, o que deixou o programa, tem de saber: dizem que ele era um forte candidato a levar aquele R$ 1,5 milhão. Ganhou o apoio do Bananinha e viu seu dinheiro fugir pelo ralo. Ou pelo "hole".