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Reinaldo Azevedo

A seguidores, Bolsonaro ameaça Mandetta e Moro com demissão. Não cita nomes

Bolsonaro fala com apoiadores às portas do Palácio da Alvorada neste domingo, dia 5 de abril: criticou governadores e ameaçou membros da sua equipe. O general Luiz Eduardo Ramos (mãos no bolso), coordenador político do governo,  acompanhou tudo... - Youtube/Reprodução
Bolsonaro fala com apoiadores às portas do Palácio da Alvorada neste domingo, dia 5 de abril: criticou governadores e ameaçou membros da sua equipe. O general Luiz Eduardo Ramos (mãos no bolso), coordenador político do governo, acompanhou tudo... Imagem: Youtube/Reprodução

Colunista do UOL

06/04/2020 04h36

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Na sua conversa com apoiadores às portas do Palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar a quarentena e fez ameaças a ministros seus — no plural mesmo. Um deles já tem nome e endereço: Luiz Henrique Mandetta, da Saúde. O outro... Bem, dez entre dez pessoas que conhecem os bastidores de Brasília sabem: o recado foi dirigido a Sergio Moro.

O presidente vem se queixando de solidão. À parte os ministros mais, como posso dizer?, chegados ao histrionismo, ninguém apoia as suas teses sobre "isolamento vertical". Aliás, duvido um pouco que ele saiba direito o que é isso. O mais curioso é que, em documentos oficiais, como veremos, seu governo não contesta a quarentena. Ao contrário: diz endossá-la.

Para o presidente, os governadores não falam a verdade quando dizem defender a vida. Seria tudo uma jogada política. E a crítica se voltou, então, a seus próprios auxiliares:
"Algumas pessoas no meu governo, algo subiu à cabeça deles. Estão se achando. Eram pessoas normais, mas, de repente, viraram estrelas. Falam pelos cotovelos. Tem provocações. Mas a hora deles não chegou ainda, não. Vai chegar a hora deles. A minha caneta funciona. Não tenho medo de usar a caneta nem pavor. E ela vai ser usada para o bem do Brasil, não é para o meu bem. Nada pessoal meu. A gente vai vencer essa"

Acho que não preciso detalhar por que estava falando sobre Mandetta. Mas não só. Bolsonaro não se conforma com o que considera omissão de Moro, seu titular da Justiça. Não só não forneceu eventual embasamento jurídico para a adoção do isolamento vertical — até porque inexiste — como expressou publicamente seu apoio às ações adotadas pelos governadores, vendo apenas algum exagero aqui e ali.

Provocação? No Instagram, Rosângela Moro, mulher do ministro, expressou apoio a Mandetta. Escreveu:
"Entre ciência e achismos eu fico com a ciência. Se você chega doente em um médico, se tem uma doença rara você não quer ouvir um técnico?".

Mandetta tem sido o médico de todos nós" e "In Mandetta I trust".

Apagou o post depois. Antes, já havia mandado ver:
"Tem que seguir as regras de isolamento, mas manter a calma". E ainda: "E mais ministro, temos que ter discernimento (capacidade de compreender situações, de separar o certo do errado)". Finalizou: "in Moro I trust."

Moro anda desconfiando de que não vai conseguir atravessar a crise no cargo. Já expressou isso a interlocutores.

Ao contrário do que diz, Bolsonaro teme, sim, usar a caneta nos dois casos.

Mandetta tornou-se uma quase unanimidade como o melhor nome para comandar a Saúde em tempos de coronavírus. Passou a ser hostilizado apenas por extremistas de direita sem... direito. Conta com o apoio da cúpula e da base do Congresso, da comunidade científica, dos militares da ativa e dos militares que estão no governo.

Com Moro, a coisa é outra. O ministro está longe de ser um exemplo de eficiência. Mas aí o presidente teme rachar suas milícias digitais. A extrema-direita bolsonarista tem quase tanta devoção pelo ministro como tem por Bolsonaro.

Por isso Bolsonaro não usa a caneta e fica secretando amarguras.