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Reinaldo Azevedo

A avaliação sobre o trabalho de Doria e Witzel. Deixem a eleição fora disso

Datafolha/Folha
Imagem: Datafolha/Folha

Colunista do UOL

08/04/2020 17h45

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O Datafolha traz uma pesquisa com a avaliação que fazem os paulistas e os fluminenses sobre a atuação de seus respectivos governadores, respectivamente João Doria e Wilson Witzel, no enfrentamento da crise do coronavírus. Foram ouvidas por telefone 528 pessoas em São Paulo e 512 no Rio. A margem de erro é de quatro pontos para mais ou para menos. O levantamento foi feito entre os dias 1º e 3 deste mês. A pesquisa também traz o que pensa a população dos dois Estados sobre o desempenho do presidente Jair Bolsonaro.

Em São Paulo, 51% consideram a atuação de Doria ótima ou boa; para 19%, é ruim ou péssima, e 27% a veem como regular. A avaliação sobre o desempenho de Bolsonaro é bem mais severa no Estado: ótima ou boa: 28%; ruim ou péssima: 43%; regular: 25%.

No Rio, avaliam como ótima ou boa a gestão que Witzel faz da crise 55%; para 17%, é ruim ou péssima, e 24% a apontam como regular. No Estado, no que diz respeito à crise, 34% veem um Bolsonaro ótimo ou bom, contra 39% que dizem ser ruim ou péssimo; para 25%, é regular.

Em São Paulo, 52% acreditam que o presidente não tem capacidade de liderar o país nessa crise, contra 44% que pensam o contrário. No Rio, 44% não enxergam tal capacidade, mas 52% sim. Nos dois Estados, a maioria acha que o presidente mais atrapalha do que ajuda: 58% entre os paulistas e 51% entre os fluminenses.

A pesquisa, obviamente, é útil porque reflete a avaliação que faz a população de escolhas absolutamente distintas: a de Bolsonaro e a dos dois governadores — refletindo, na verdade, o comportamento de quase todos eles.

Os chefes dos Executivos estaduais implementaram as medidas de isolamento social e estão seguindo as diretrizes da Organização Mundial da Saúde e, ora vejam!, do Ministério da Saúde. Bolsonaro se insurgiu contra as recomendações da OMS, pregando a volta à normalidade para, segundo diz, não prejudicar a economia e manter os empregos, insistindo na tese do isolamento dos grupos de risco — sem deixar claro como isso seria feito.

CUIDADO COM A DISTORÇÃO!
Resta evidente que Doria e Witzel, em seus respectivos Estados, são mais bem avaliados do que Bolsonaro. Mesmo com uma margem de erro ampliada, de quatro pontos percentuais para mais ou para menos, a diferença é necessariamente grande porque, afinal, a possível variação vale para todo mundo.

Os dois governadores são considerados pré-candidatos à Presidência da República. Têm todo o direito de sê-lo, com ou sem ter de enfrentar os efeitos de uma pandemia. Mas isso impõe especial cuidado na análise. Afinal, Bolsonaro também é pré-candidato à reeleição, não é mesmo?

Se tudo o que fizerem os dois governadores for visto pela lente da disputa eleitoral, então o mesmo tem de ser aplicado ao presidente. Ou será que ele só se interessa pelo bem da humanidade, enquanto os outros teriam atuação eleitoreira? Vamos ver: se eu adotar tal critério, tenho de entender que eles resolveram ganhar votos pedindo à população que fique em casa, enquanto tentam estruturar o sistema local de saúde para abrigar os doentes, e que Bolsonaro optou por garimpar apoios incitando as pessoas a levar uma vida normal, com o eventual e impossível isolamento dos idosos.

Assim, os dois executivos estaduais estariam, então, a fazer pré-campanha escolhendo as recomendações da OMS e do Ministério da Saúde, e Bolsonaro, as recomendações do que dizem que a economia não pode parar. Então seria o caso de dizer: avaliem vocês quem escolheu o caminho da prudência.

DISTORÇÃO
Penso que submeter esses números a um filtro eleitoral, com as eleições estando ainda muito distantes, distorce o bom pensamento. Há comportamentos que estão endossados pela ciência e pelos especialistas epidemiologia e há aquele que não está. Não são meras escolhas eleitorais.

Até porque vamos convir: se Doria e Witzel, então, resolvem emular com Bolsonaro na escolha do lado de lá do muro que separa as duas avaliações, haveriam de fazer o quê? Convocar a população para constantes concentrações públicas, promovendo, assim, imunização e morte em massa em nome do bom desempenho da economia?

As escolhas foram feitas, e a população avaliou. É bom deixar a eleição longe disso.