AGU entrega exames de Bolsonaro a Lewandowski e diz: resultado é negativo
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Não está claro ainda se é uma mudança de estratégia, mas parece, PARECE!!!, que o presidente Jair Bolsonaro decidiu substituir a beligerância, que só lhe tem custado caro, por alguma urbanidade no trato com os outros Poderes e com terceiros. A ver. Isso é só percepção da hora, não apuração. Vamos ver.
A Advocacia-Geral da União entregou ao gabinete do ministro Ricardo Lewandowski os exames feitos pelo presidente para a detecção da Covid-19. A entrega foi feita às 22h por um emissário da Advocacia Geral da União no gabinete do ministro. Como ele trabalha em casa em razão das medidas de combate ao coronavírus, o material lhe será enviado.
"Os laudos confirmam que o presidente testou negativo para a doença", diz a AGU em nota. Vamos ver o que exatamente foi entregue e de qual laboratório. De todo modo, entende-se, chegou ao ministro aquilo que o jornal havia requerido.
Ficou feio para João Otávio de Noronha, presidente do STJ, né? O Estadão entrou com um pedido para saber o resultado dos exames com base na Lei de Acesso à Informação, que regulamenta disposição constitucional sobre a transparência de dados que dizem respeito ao interesse público.
Obteve decisão positiva na primeira instância da Justiça Federal e na segunda (TRF-3). Noronha cassou monocraticamente a decisão, alegando que o presidente tem direito ao sigilo nesses casos. Já expliquei aqui por que a decisão do ministro é absurda e afronta a lei e a Constituição.
O jornal entrou com uma Reclamação no Supremo cobrando a divulgação dos dados, e Lewandowski foi sorteado para o caso. Não se pode jurar, claro!, mas parece certo que a decisão de Noronha seria cassada.
Lewandowski costuma ser muito reverente às instâncias e poderia esperar a decisão de recurso que foi apresentado pelo jornal também ao STJ. Se negativo, então decidiria. Entendo que não há como reter a informação.
Antes que uma nova derrota fosse colhida no Supremo, o governo se adiantou, no que fez muito bem, é claro!
Segundo a AGU, os exames atestam negativo — ou seja: o presidente não estaria escondendo nada. Se for mesmo isso o que está nos exames, e deve ser, o presidente buscará lograr uma pequena vitória, escolhendo, então, o lugar da vítima perseguida por uma imprensa implacável. Vamos ver.
URBANIDADE?
Confesso que não assisti ao quebra-queixo inteiro. Quebra-queixos são aquelas entrevistas em que repórteres e cinegrafistas se acotovelam para registrar o que diz o entrevistado.
Num dado momento, Bolsonaro falava sobre a rampa do Planalto, e os jornalistas embaixo, provocando aglomeração perigosa em tempos de coronavírus... Cuidado, gente!
Até onde acompanhei, o presidente preferiu responder as perguntas a ofender os profissionais de imprensa. Terá percebido que isso alimenta a sede de sangue de seus fanáticos, mas faz mal a seu governo? Acho improvável que a consciência lhe tenha vindo de uma hora para outra... Em todo caso... Talvez Bolsonaro tenha se dado conta de que as coisas se adensam para o seu lado.
Por que ficou chato para Noronha? Mais realista do que o rei. Estivesse o governo convicto da legalidade do sigilo, teria ido até o fim, não? Da forma como se deu, até Bolsonaro reconhece, ao fim, que deve dar satisfações.
Se não reconhece no íntimo, foi convencido a reconhecer de que a lei assim reconhece, certo?