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Reinaldo Azevedo

Chega de farsa! Lindora também é da Lava Jato. E a teoria do espantalho

Lindora Araújo, que foi a Curitiba: Lava Jato tenta todos os truques para continuar como órgão autônomo na República -  Gil Ferreira/Agência CNJ
Lindora Araújo, que foi a Curitiba: Lava Jato tenta todos os truques para continuar como órgão autônomo na República Imagem: Gil Ferreira/Agência CNJ

Colunista do UOL

06/07/2020 08h02

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Chega a ser exasperante ler aqui e ali que a subprocuradora-geral Lindora Araújo tentou fazer uma interferência indevida na Lava Jato de Curitiba, o que caracterizaria, então, um esforço da Procuradoria Geral da República para emparedar a força-tarefa.

É impressionante! Lindora é nada menos do que a coordenadora, na Procuradoria Geral da República, da... Lava Jato! E Deltan Dallagnol sabe muito bem que a tinha como uma aliada até outro dia.

O que mudou?

O que a Lava Jato de Curitiba andou fazendo em verões passados que o seu braço na PGR, que é a instância que atua junto a tribunais superiores, não pode saber?

Andaram fazendo escutas por lá ao arrepio da lei? Há Procedimentos Investigatórios Criminais (PICs) que nunca chegam a termo? Autoridades com foro no Supremo ou no STJ foram informalmente investigadas na primeira instância? Nada disso? Então nada a temer porque, convenhamos, é o Ministério Público Federal lidando com seus pares, não é mesmo?

Ou Dallagnol dirá agora que não há razões para confiar no MPF?

Outra coisa: na imprensa, fatos estão virando boatos, ficando por conta de "um disse" e "o outro disse". Cansei de ler coisas assim: "A Lava Jato de Curitiba acusa a PGR de ter tentado acessar dados sigilosos de investigação, e a PGR diz que há autorização judicial para o compartilhamento".

Atenção! É errado falar ou escrever que "a PGR diz que há autorização". PRESTEM ATENÇÃO! HÁ A AUTORIZAÇÃO. E ela foi dada, diga-se, por Sergio Moro quando juiz. E olhem que a dita-cuja era desnecessária. Mesmo sem ela, a PGR já tinha o direito de acessar os dados.

Afinal, não parece razoável que alguns jornalistas amigos saibam sobre o que está em investigação em Curitiba mais do que o braço da Lava Jato na PGR, certo?

Vamos ver, então, as correções necessárias para que não se invista em desinformação:
- Lindora integra a Lava Jato, mas na PGR. Não é uma interventora inventada por Augusto Aras;
- a autorização judicial existe. E olhem que abunda no desnecessário: as forças-tarefa têm de compartilhar os dados com seu braço na PGR.

Sim, eu sei que a coisa fica complicada quando uma denúncia vem a público, e o presidente da Câmara aparece como "Rodrigo Felinto", e o do Senado, como "David Samuel"... Se não foram investigados, por que seus respectivos nomes estão lá? Se estão porque teriam recebido recursos indevidos ou decorrentes de delitos, por que não se mandou a informação para a PGR?

Tudo indica que a Corregedoria, acionada pelo próprio Dallagnol, tem mesmo muito trabalho a fazer em Curitiba. Depois do espetáculo protagonizado contra o senador José Serra na sexta, tudo indica que todas as franquias da operação precisam ser submetidas ao molde institucional.

LINDORA BOLSONARISTA
Mas a acusação mais vigarista é a de que Lindora Araújo é bolsonarista. Não sei se é. Se for, não é novidade no Ministério Público Federal. Ou preciso lembrar aqui de conversas de procuradores "rezando para Deus" para que Fernando Haddad não fosse eleito? Ora...

De toda sorte, se Lindora for bolsonarista, do que reclamam os bravos de Curitiba? Sergio Moro, seu chefe espiritual, foi ministro da Justiça do governo que aí está.

Ainda que a subprocuradora tenha simpatias pelo presidente — não pesquisei para saber se isso é verdade porque é irrelevante —, constate-se: os bravos procuradores usam Bolsonaro como espantalho para tentar impedir a PGR de fazer o seu trabalho.

E também é um esforço dos bravos rapazes para angariar simpatias na imprensa, que andam em baixa.

Então vem a teoria do espantalho.