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Reinaldo Azevedo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Campanha começa; logo mais, pesquisa Ipec; na 5ª, Datafolha; na 6ª, milicos

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Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

15/08/2022 05h24

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A campanha eleitoral começa oficialmente amanhã, embora já esteja presente em todo canto. Há muito tempo Jair Bolsonaro, por exemplo, ocupa-se apenas de tentar se manter na cadeira presidencial, seja por meio de eleição, seja por meio do golpe. A semana está pontuada de eventos relevantes.

Nesta segunda, o Ipec — formado por profissionais que pertenceram ao Ibope — divulga a sua pesquisa presidencial, encomendada pela Globo. Também estão previstos levantamentos para os respectivos governos de Rio, Minas, São Paulo, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Distrito Federal.

Os números anteriores do instituto datam de dezembro do ano passado. A realidade política mudou. De lá para cá, pré-candidatos desistiram da postulação. Entre os que pontuavam, então, estavam Sergio Moro (6%), André Janones (2%), João Doria (2%) e Cabo Daciolo (1%).

Em dezembro, Lula (PT) venceria no primeiro turno, com 48% dos votos. Jair Bolsonaro (PL) vinha em segundo lugar, com 21%. Ciro Gomes (PDT) aparecia em quarto, com 5%. A desistência do ex-juiz, como ficou evidente, levou o atual mandatário a mudar de patamar, como revelaram outros institutos, chegando perto dos 30% ou ultrapassando esse limite.

Na quinta, será a vez de um novo Datafolha. Na pesquisa passada, divulgada em 28 de julho, num cenário que que não se repetirá, o petista aparecia com 48%; Bolsonaro, com 29%; Ciro com 8%, e Simone Tebet (MDB) com 1%. Janones (Avante), com 1%, passou a apoiar Lula, e Pablo Marçal (PROS), também com 1%, não será candidato caso prevaleça a decisão da Justiça de manter à frente do partido a atual direção, que declarou apoio ao petista.

As duas pesquisas são presenciais e costumam ser as principais referências dos políticos e dos analistas. Sim, há levantamentos sendo feitos o tempo todo e para todos os gostos. O noticiário está inundado de informações em off — cujas fontes não são reveladas — sobre "trackings" (levantamentos feitos por telefone, mas sem o rigor técnico de uma pesquisa) apontando o encurtamento da diferença entre Lula e Bolsonaro. Os números não são divulgados porque esses procedimentos não são registrados no TSE.

EFEITO DAS PECs ILEGAIS
O que é que ninguém, até agora, sabe ao certo? O efeito das PECs ilegais na decisão do eleitorado. Tanto a do ICMS como a dos benefícios sociais, que apelidei de "Ai, que medo do Lula!", mexem diretamente com o bolso de estratos diferentes do eleitorado -- um deles, o dos mais pobres, bastante refratário ao presidente.

A redução do imposto estadual sobre combustíveis baixou sensivelmente o preço ao consumidor, e seu potencial efeito eleitoral se concentra mais na classe média. Caminhoneiros e taxistas serão diretamente impactados por uma das medidas da PEC dos benefícios. E há o pagamento suplementar de R$ 200 do Auxílio Brasil, um recurso que vai para os mais pobres. As medidas, exceção feita à redução dos impostos, têm prazo de validade: até dezembro.

CAMPANHA ELEITORAL
A campanha de rua começa nesta terça. Bolsonaro parou de trabalhar faz tempo -- se é que fez isso algum dia -- e se ocupa exclusivamente de eventos eleitorais, ainda que disfarçados, muitos deles, de cultos religiosos. A máquina do governo se dedica à propaganda do que seria um novo amanhecer econômico, o que é picaretagem.

No dia 26, começa o horário eleitoral no rádio e na televisão. Em 2018, sua interferência foi bastante reduzida. Eram outros tempos. Bolsonaro foi beneficiado pela facada — o que o tirou dos debates e do enfrentamento direito com os adversários — e pelo movimento de ódio à política fermentado pelos quatro anos de Lava Jato, que havia encarcerado Lula. O sistema político também foi surpreendido pela máquina de moer reputações e de fabricar mentiras montada pelo bolsonarismo.

O ódio ao PT e às esquerdas, que continua a ser um dos pilares da campanha de Bolsonaro, já se verificava, claro!, na eleição passada. Mas havia um outro: o combate à corrupção e ao Centrão, que hoje é o esteio da candidatura do "Mito". O país vive sob a égide, agora para valer, do modelo mais corrupto de governança da história, por intermédio do Orçamento Secreto. E o antes demonizado Centrão dá as cartas no governo.

O Bolsonaro anticomunista e antediluviano está aí, como sempre. Aquele que supostamente enfrentaria os corruptos da República perdeu discurso. Vamos ver que tratamento seus adversários darão à questão e como se vai tentar traduzi-la no rádio e na televisão.

Mesmo os benefícios advindos da queda do preço de combustíveis e energia, o que levou a uma deflação, são desigualmente percebidos. O preço dos alimentos, por exemplo, continua a subir. Essa deflação de que o governo tanto se orgulha é, obviamente, artificial e tem peso acentuado para os consumidores de mais alta renda. É um flanco que certamente será explorado pelos adversários do governo.

A MILICADA
Na sexta, no dia seguinte à pesquisa Datafolha, a comissão formada pelos militares dará o seu veredito sobre a fiscalização do código-fonte das urnas eletrônicas. Esse é outro segredo de Polichinelo. Enquanto as ditas-cujas não confessarem o que eles querem ouvir, manterão a sombra da suspeição porque é o que Bolsonaro quer ouvir. Afinal, caso ele seja derrotado, quer manter um pretexto para contestar o resultado.

Não lhe bastam as PECs inconstitucionais que lhe permitiram dar o golpe eleitoral. Se não surtirem o efeito desejado, ele pretende flertar com o golpe antieleitoral.