Reinaldo Azevedo

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Opinião

Pró-golpismo: por que havia menos gente em SP do que no RJ. E o que importa

A regra de três, aquela bem simples, está virando artigo raro... O ato em favor da impunidade aos golpistas, havido em São Paulo neste domingo, foi um mico ou um sucesso se comparado ao do Rio, havido no dia 16 de março? Dadas as medições do Datafolha e de um tal Monitor do Debate Político no Meio Digital — que se abriga na USP (não pertence à universidade) — e se você considerar que os manifestantes habitam o vácuo, então Jair Bolsonaro acabou se dando bem. Datafolha e Monitor apontaram, respectivamente, 30 mil e 18,3 mil no primeiro e 55 mil e 44,9 mil no segundo. Manchetes possíveis, pautadas pela idiotia da objetividade: "Datafolha: 83,33% a mais de público em SP; segundo Monitor, 145,35% a mais". Uau! Agora vai!!! Mas vai? A regra de três existe. E fica fácil constatar que, dadas essas duas medições, apareceu menos gente em São Paulo do que no Rio. Do ponto de vista da presença de público, mico antes e supermico agora. E, no entanto, assistimos a um evento importantíssimo.

Qualquer manifestação na capital paulista, até em favor de injeção gratuita nos olhos, tende a reunir mais gente do que em qualquer lugar do país. O Estado do Rio tem uma população de 17.219.679 indivíduos; São Paulo, de 45.973.194. Vamos fazer uma regrinha de três, do tipo simples? Para que aparecesse na Paulista número meramente proporcional ao que reuniu Copacabana (e já havia "flopado"), dadas as respectivas populações, deveriam ter se juntado neste domingo 48.857,441 (critério do Monitor) ou 80.094,175, na medição do Datafolha.

Assim, meus caros, a verdade nua e crua é que, dada a população de cada Estado, apareceu menos gente em São Paulo do que no Rio. É fato: segundo o Datafolha, o público agora foi 83,33% maior; de acordo com aquele ente instalado na USP, 145,35% a mais. Só que existe uma diferença nada singela entre os dois Estados, não? Há 166% A MAIS de pessoas vivendo em São Paulo no que no Rio.

MAS ISSO É TÃO IMPORTANTE?
"Mas isso é tão importante, Reinaldo?" Bom, os defensores dos golpistas anunciavam um milhão no Rio. Deu no que deu. Desta feita, não se falou em número, mas é sabido que o governador Tarcísio de Freitas estimulou as caravanas do interior do Estado. A máquina, vamos dizer, de "divulgação" do Estado funcionou a todo vapor. Amigos meus foram ao ato. Consta que havia todo o jeitão de que meus parceiros de sotaque -- eu, um "caipira da gema" -- compunham parte expressiva do evento.

Já me manifestei mais de uma vez a respeito. Não considero, e nunca considerei — basta que pesquisem embates meus ao longo dos anos — que presença de pessoas na rua deva pautar tribunais. Já deixei claro mais de uma vez que sou contra até vertentes plebiscitárias de democracia verdadeira. Se a "voz rouca das ruas" afrontasse a Constituição, eu estaria com a Carta. Imaginem, então, quando se trata de uma tese delinquente, criminosa.

"Ah, mas sete governadores estavam lá..." E daí? Trata-se de disputa pelo poder. O evento ocorre depois de duas pesquisas, Quaest e Datafolha, indicarem que Lula venceria todos os seus adversários em 2026 — no caso do Datafolha, Fernando Haddad também bateria os, vamos dizer, conservadores".

Apesar da pressão e da cobertura amplamente favorável a Bolsonaro e à impunidade (mal chamada de "anistia) e hostil ao Supremo, os brasileiros não compraram a pauta em defesa dos criminosos condenados. Segundo a Quaest, 56% são contrários ao benefício. Anote-se: ainda que 100% fossem favoráveis, a proposta continuaria inconstitucional.

MINIMIZAR JAMAIS!
Mico no Rio e supermico em São Paulo. "Está minimizando, Reinaldo?" De jeito nenhum! Ficou evidente que não existe direita livre do cabresto de Bolsonaro. E sua concepção de poder é essencialmente golpista e autoritária. Quem estava lá endossou o seu discurso. Logo, se esse campo vence as eleições, ou haverá choque de Poderes ou se terá a subordinação do Judiciário ao Executivo, e aí a democracia estará em risco. É preciso dar ao evento a importância que teve não em razão do número de pessoas que estavam no chão, mas em razão daqueles que estavam sobre o palanque.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.