Chantagem escancarada: líder do PL ameaça usar emendas para enforcar Motta

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O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), decidiu que é chegada a hora de chantagear em cena aberta o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Ou bem faz este o que ele quer — o "ele" compreende um concerto de vontades reacionárias —, ou haverá rompimento, com desdobramento nas emendas. O bolsonarismo radical aposta num caminho perigoso. Se Motta ceder, acaba a sua gestão, e ele vira boneco de mamulengo de Sóstenes e afins.
Qual é o ponto?
O presidente da Câmara já concedeu algumas entrevistas apontando que o Brasil tem outras prioridades e que há urgências que demandam um país unido, não dividido. Se a dita anistia tem mais cheiro de confusão do que de solução — e tem —, a posição responsável do terceiro homem na hierarquia da República tem de ser afastar de si o cálice...
Mas aí veio o líder do PL e ameaça:
"Estamos estabelecendo um limite que é: insere ou não a urgência na pauta amanhã. Se ele não inserir, isso vai significar que ele está rompendo com a gente. Isso não pode ficar 'ad aeternum'"
Huuummm...
Romper significa o quê? Informa a Folha:
"O líder do PL também afirmou que esse eventual rompimento com o presidente da Câmara pode impactar a divisão do valor das emendas de comissão na Casa -- recursos propostos pelas comissões permanentes da Câmara e do Senado, além das comissões mistas do Congresso Nacional. Segundo ele, há um acordo firmado com Motta e demais líderes partidários que prevê a divisão desses recursos seguindo esta proporção: 30% do valor total que uma comissão tem direito fica com o partido que tem o comando do colegiado, enquanto os demais 70% são distribuídos por Motta às demais legendas."
E quais são as comissões que têm o PL na cabeça? Saúde, Turismo, Agricultura, Relações Exteriores e Segurança Pública. A de Saúde liderou a verba de emendas de comissão no último ano, lembra o jornal.
Sóstenes não economiza nas metáforas e ameaça Motta com o enforcamento:
"Se Hugo Motta romper conosco, eu não preciso respeitar isso. Se for necessário colocar a corda no pescoço, como o STF e o governo fazem com ele, o rompimento até nisso pode afetar. Mas não queremos isso, porque somos cumpridores de acordo. E ele precisa cumprir o dele".
Digamos que o presidente da Câmara fizesse as vontades de líder do PL nas condições dadas... Indago: qual seria o próximo passo?
É impressionante como Bolsonaro e os que atuam segundo a sua orientação não temem crise ou confronto. Não se trata de coragem exatamente, mas de irresponsabilidade.
Motta terá de decidir se faz a coisa certa ou se entrega a chave da Câmara a Sóstenes. E, com ela, o seu futuro político.
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