Os EUA vão punir Moraes? Vira-latas rosnam sabujice e ódio e querem o caos

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No dia em que Carlos de Almeida Baptista Jr., ex-comandante da Aeronáutica, confirma, em depoimento ao STF, a tramoia golpista de Jair Bolsonaro, com alguns dados adicionais ao que se sabia — fez-se até um "brainstorm" para se neutralizarem os demais membros do STF no caso de alguns deles serem presos —, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, numa fala breve, afirmou à Comissão de Relações Exteriores da Câmara que o ministro Alexandre de Moraes pode ser enquadrado na chamada "Lei Magnitsky", que o proibiria, entre outras coisas, de entrar naquele país. Eduardo Bolsonaro, licenciado do seu mandato de deputado e morando no Texas, puxou a comemoração do bolsonarismo nas redes. Está lá, consta que sustentando pelo pai, com o propósito declarado de cavar punições ao magistrado brasileiro.
Um breve relato sobre as circunstâncias. Foi indagado a respeito pelo republicano Cory Lee Mills, que acusou o ministro de perseguir a oposição, incluindo jornalistas e cidadãos comuns, e de estar preparando a prisão de Jair Bolsonaro. Avançou com outra afirmação e duas indagações: "Essa repressão se estende além das fronteiras do Brasil, impactando indivíduos em solo norte-americano. O que você pretende fazer? Você consideraria sanções ao ministro do Supremo Alexandre de Moraes, sob a Lei Global Magnitsky?"
Rubio, então, afirmou:
"Isso está sob análise neste momento, e há uma grande possibilidade de que isso aconteça".
Os insanos, por aqui, vibraram, e até na imprensa apareceu quem achasse a sanção muito razoável, entendendo que cabe mesmo aos EUA o papel não só de Polícia do Mundo como o de coordenação de uma Justiça Global. E, afinal, como sabemos, liberdade de expressão é realmente sagrada no governo Trump, não é? As universidades que o digam... Mas se pode defender sem susto por lá a limpeza étnica na Faixa de Gaza, é claro!
A tal "Lei Global Magnitsky", um dos presentinhos indigestos que o governo Obama legou como herança em sua política externa a seu modo caótica — a de Trump o é de outro modo —, busca, na intenção ao menos, combater a corrupção e a agressão aos direitos humanos. Foi aprovada em 2012 para punir autoridades russas pela morte do advogado Sergei Magnitsky. Em 2016, foi alterada para espalhar seus efeitos mundo afora sob o pretexto de enfrentar corrupção, tortura, execuções, desaparecimentos e prisões arbitrárias. Sabem como é... Para ter uma Guantánamo, é preciso também ter uma máquina de guerra... Alguém ousaria dizer que Moraes se enquadra em um desses casos?
VAI ACONTECER?
Não sei. Lá está Eduardo, com contatos, sim, no Partido Republicano, que mora nos EUA com o fim declarado de articular punições contra um membro do Judiciário brasileiro.
Na esfera legal propriamente, Bolsonaro, e o mesmo vale para os extremistas que o cercam, sabe que não há chance de ele obter algum benefício pessoal com isso. Ou alguém supõe que, se o ministro for punido, haverá uma chance de, sei lá, o tribunal ceder à pressão?
O primeiro e imediato movimento seria a união do tribunal — e suponho que os dois ministros nomeados pelo "Mito", que ele chama de "meus 20%" — em defesa do magistrado. Afinal, não se trataria de uma agressão a um juiz em particular, mas a todo Judiciário. Ou um dos Podres da República no Brasil passaria a ser laçada pelo Departamento de Estado dos EUA.
E a corda não estaria sendo posta só na cabeça do Poder Judiciário. Com todas as suas óbvias imperfeições, o Brasil é uma das maiores democracias do mundo. Existe até autonomia universitária por aqui, não é mesmo? Pergunta rápida de resposta óbvia: o Parlamento brasileiro não se colocaria na fila de uma eventual sanção?
Sigamos com as questões. Haverá eleições livres, como têm sido desde 1989, para a Presidência em 2026. A direita tem uma pletora de candidatos e ainda não tem nenhum. Mas o(s) terá. Desde já, se uma punição acontecesse, forçoso seria que aqueles que querem os votos do bolsonarismo também se pronunciassem a respeito. Subirão nos palanques para prestar reverência ao governo Trump, exibindo, orgulhosos, a sua condição de sabujos do americano?
Três Poderes e o Ministério Público, com suas ramificações, formam o Estado brasileiro. A agressão estrangeira a um deles implica um óbvio ataque à sua soberania. Como não se vai declarar guerra aos EUA, a resposta tem de ser política. E será qual? Conhecemos já o silêncio sepulcral dos reacionários por aqui diante das tarifas impostas por Trump. Silêncio de quase todo mundo... Bolsonaro as defendeu e tentou mobilizar seu partido contra uma lei que confere ao governo brasileiro, não importa quem seja o mandatário, o direito de, em ultimo caso, aplicar retaliações — ainda que elas não sejam desejáveis nem necessárias por ora.
Aonde quero chegar com isso?
APOSTA DA CRISE INSTITUCIONAL
Não há, insisto, no quadro institucional regular, como Bolsonaro vir a se dar bem com uma eventual punição a Moraes. Ocorre que ele não aposta no "quadro institucional regular". Seu jogo só pode prosperar na crise, na bagunça, na arruaça. É o que ele quer.
Ou me digam: não é exatamente o que ele pretende quando patrocina uma proposta de anistia aos golpistas que sabe ser inconstitucional? Os tempos, sei, são bem particulares. Até há coisa de uns 10 anos, quem quer que se ligasse a um governo estrangeiro para punir um dos Poderes estaria liquidado politicamente. Hoje em dia, exibe o orgulho da servidão. Vamos ver o que vem. Mas, por ora ao menos, até na imprensa a reação é acovardada. Certamente Janja e Lula apanharam muito mais por causa do TikTok... É um sintoma destes dias. 3, 2, 1... para que aqueles, vocês sabem, os de sempre, digam que Moraes exagerou...
Sabem como é... "Os armênios exageraram, os judeus exageraram, os palestinos exageram..." Na fala desses delinquentes, o abraço com o caos tem lá sua razão de ser. E sempre se deve indagar qual é a culpa das vítimas.
Baptista Jr. deu um depoimento devastador nesta quarta. O plano homicida de golpe de Estado padece, a esta altura, de um excesso de provas. Não havendo no ordenamento jurídico resposta possível para salvar os criminosos, então que se apele ao Império do Norte... Quem sabe de lá venha uma expedição punitiva.
TRUMP E MARK MILLEY
Ao ler trechos dos depoimentos do ex-comandante da Aeronáutica tanto à PF como ao STF, eu me lembrei de um outro militar: Mark Milley, que foi chefe do Estado-Maior do Exército dos EUA entre 2015 e 2019 e chefe do Estado-Maior Conjunto -- vale dizer: a maior autoridade do Pentágono -- entre 2015 e setembro de 2023.
Em 2020, Milley percebeu que Trump se organizava para não respeitar o resultado da eleição. E tratou de tomar as providências para limitar as suas ações à esfera estritamente legal e blindar as Forças Armadas. Os detalhes estão contados no livro "I Alone Can Fix It: Donald J. Trump's Catastrophic Final Year" — algo como "Posso Arrumar Isso Sozinho — O ano final catastrófico de Trump", de Carol Leonnig e Philip Rucker.
No dia 20 de novembro de 2020, com Trump ainda no poder e sem reconhecer a vitória de Biden -- a invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, ainda estava por vir --, Milley inaugurou o Museu do Exército e discursou nas fuças do então presidente:
"Somos únicos entre os militares. Não fazemos juramento a um rei ou rainha, a um tirano ou a um ditador. Não fazemos juramento a um indivíduo. Não fazemos juramento a um país, a uma tribo ou religião. Fazemos um juramento à Constituição. Cada soldado representado neste museu, cada marinheiro, aviador, fuzileiro naval, guarda costeiro, cada um de nós protegerá e defenderá esse documento, independentemente do custo pessoal".
Ao voltar ao poder, Trump decidiu remover a equipe de segurança de que dispunha o general, e o secretário de Defesa, o esquisitão Pete Hegseth, anunciou que havia ordenado uma investigação sobre sua atuação à frente das Forças Armadas dos EUA, especulando sobre um eventual rebaixamento de patente.
ENCERRO
Evoco o confronto de Trump com Milley porque a institucionalidade americana, precária nesse particular, permitiu que um golpista como Trump voltasse ao poder, perdoasse os criminosos da invasão do Capitólio e ainda se vingasse dos que o impediram de dar um golpe.
Por aqui, Bolsonaro não se conforma com a sua sorte e exige ter o mesmo destino de Trump, de quem se considera discípulo e diante de quem, já deixou claro mais de uma vez, sente-se uma titica de galinha. Não conseguindo o que quer na democracia brasileira, então apela ao golpista americano.
O complexo de vira-lata rosna sabujice, ressentimento e vigarice.
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