Reinaldo Azevedo

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Opinião

Carlos: há direitistas a quem Bolsonaro deu voz que o querem morto. Quem?

Além do óbvio, não há muito a dizer, mas é preciso que exista quem o faça. Bolsonaro voltou a passar mal, segundo o seu entorno, e vai tirar o mês de julho para descansar. A mulher do ex-presidente e pré-candidata à Presidência, Michelle Bolsonaro, divulgou um comunicado assinado pelos médicos que cuidam do marido, em suas redes. Diz assim:

"Comunicamos que o senhor Jair Bolsonaro permanecerá em repouso domiciliar durante o mês de julho com o objetivo de garantir a completa recuperação de sua saúde após cirurgia extensa e internação prolongada, episódio de pneumonia e crises recorrentes de soluços, que dificultam a sua fala e alimentação.
Durante esse período, ele ficará afastado de suas atividades habituais, incluindo agendas públicas e atividade político-partidária, retornando tão logo esteja plenamente restabelecido.
Agradecemos pela compreensão e apoio de todos.
Atenciosamente,
Dr. Claudio Birolini, Cirurgião-Geral
Dr. Leandro Echenique, Cardiologista"

Dois dias depois de anunciar que pretendia dominar o Brasil e constituir um Estado paralelo, isso procede? Sei lá. Não vou duvidar da palavra dos médicos em casos assim, não é? Impressão de observador: ele parece, efetivamente, mais magro e um tanto abatido. Mas isso é mera percepção leiga.

A gente tem razão para desconfiar? Em conversa com Leda Nagle em junho de 2022, o então presidente disse esta maravilha:
"A preocupação do Alexandre de Moraes é 'fake news'. Pelo amor de Deus! Ô, Leda, se eu contar uma mentira para você agora, você acredita se quiser. Ou, se você não gostar, você nunca mais fala comigo, você nunca mais entra na minha página".

Em 23 de agosto de 2023, falando à "Folha", admitiu que mandou espalhar "fake news". Ele o fez no dia seguinte à divulgação de um relatório da PF revelando mensagens suas para um empresário com a orientação para que repassasse "ao máximo" conteúdo repleto de mentiras sobre o processo eleitoral. Questionou desafiador: "Qual é o problema"? Mais de uma vez, em debates, já repetiu que "fake news" não é crime.

Assim, queiramos ou não — e isto diz respeito ao dever jornalístico, não à honorabilidade dos médicos —, deve-se ver com cuidado tudo o que vem daquela matriz porque a verdade, no ambiente bolsonarista, costuma ser só um intervalo, muito breve, entre duas mentiras. De resto, por razões distintas e combinadas, torço para que se recupere em sendo como se diz.

CARLOS BATE NA DIREITA
E, vejam vocês, juízo convencional esperaria que um Carlos Bolsonaro, por exemplo, atacasse, sei lá, as esquerdas, os progressistas de maneira geral, os lulistas em particular. Mas não. O vereador do Rio voltou suas baterias contra a direita. Escreveu nas redes (transcrevo como está lá):

"Meu pai está literalmente se matando depois de terem tentado matá-lo, a quantidade de 'gente' que se diz de 'direita' vindo em seu perfil há um bom tempo torcendo pelo pior é realmente muita maldade e a inércia de outros é reveladora. Isso sempre foi assim, mas ultimamente está me fazendo ainda mais mal porque se vê o movimento orquestrado frente há uma cirurgia de mais de 10 horas em menos de cerca de 2 meses. E pensar que querem a morte de quem os possibilitou ter o mínimo de voz! Força, pai. Tenha piedade, Senhor!"

Embora Carlos não apele à religião, ele também fala uma língua estranha, como se vê, próxima da nossa, tanto é que a gente, vá lá, entende o que diz.

Ele não diz que são as esquerdas a torcer pelo pior, mas a direita. E também acusa "a inércia" — sabe-se lá de quem. Eduardo, seu irmão, nós sabemos, costuma fazer mira em Tarcísio, que fez discurso eleitoreiro no evento micado da Paulista.

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O dado material: não há nenhuma razão, ainda que se deixasse mover apenas pela torcida, eventualmente impiedosa, para que a esquerda torça para que aconteça o pior com Bolsonaro — e é disso que Carlos está falando.

Quem, objetivamente, ganharia se o dito "capitão" saísse do jogo agora — dado que lá não estará em 2026 — e ainda como mártir?

Carlos é muito claro dentro do que permite seu cultivo dos pronomes oblíquos: diz haver os direitistas que querem a morte de Bolsonaro, embora este LHES — "LHES", Carlos!" — tenha "possibilitado ter o mínimo de voz".

Quem, na direita, segundo Carlos, quer Bolsonaro morto?

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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