Rogério Gentile

Rogério Gentile

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

Justiça condena Prefeitura de SP por mudanças em monumento de Senna

A Justiça paulista condenou a Prefeitura de São Paulo a restaurar o monumento "Velocidade, Alma e Emoção", feito em homenagem ao piloto Ayrton Senna (1960-1994), retomando as suas características originais.

A obra, da artista plástica Melinda Garcia, foi inaugurada em 1995 pelo então prefeito Paulo Maluf após a morte do tricampeão de Fórmula 1. Originalmente, ficava junto à entrada do túnel que leva o nome do piloto, sob o Parque Ibirapuera.

Em 2017, o prefeito João Doria resolveu restaurar a escultura, que havia sido vandalizada. A bandeira, por exemplo, tinha sido furtada. A obra de recuperação, no entanto, alterou algumas características do monumento, que foi reinaugurado no Centro Esportivo Modelódromo, no Parque Ibirapuera

Na ação aberta contra a prefeitura, Melinda disse que a prefeitura, sem a sua autorização, modificou a escultura numa violação dos seus direitos como autora. "Não há nada mais aviltante e humilhante para um artista", declarou. "É muita grosseria e desrespeito".

Uma perícia feita por determinação judicial confirmou que a obra, que tem 5 metros de envergadura por 2,30 de altura (sem considerar a base), foi modificada.

"O mastro da bandeira era praticamente reto e ficava em ângulo de cerca de 70º em relação ao solo, engastada na mão do piloto. Na restaurada, o mastro é curvo e se inicia em uma peça perpendicular ao 'braço' cilíndrico, que não existia na original", afirmou à Justiça o perito José Carlos Teixeira.

O perito apontou também que houve uma mudança na base da obra, que era de granito. Agora, ela é revestida com duas placas de mármore.

"O mármore utilizado no revestimento, emendado e com manchas amarronzadas em diagonal, conferiu ao conjunto aparência de gosto duvidoso. O revestimento da base da escultura, atualmente, parece sujo e mal-acabado."

Segundo o perito, o restauro não respeitou o desenho original, "conferindo ao monumento baixa qualidade artística".

Continua após a publicidade

Ao condenar a prefeitura, o juiz José Eduardo Rocha ressaltou que a restauração realizada em 2017 acabou agravando os danos materiais à obra, que está com uma oxidação descontrolada, em razão do "uso de materiais inadequados".

Disse que houve uma depreciação do valor estético do monumento, descaracterizando seu propósito de ser a reprodução de um carro de corrida.

Prefeitura ainda pode recorrer

Além de restaurar a obra de acordo com os padrões originais, a prefeitura terá de pagar uma indenização de 10 salários-mínimos à artista.

A prefeitura, que ainda pode recorrer da decisão, afirmou no processo que, desde o recebimento, em 1995, o monumento apresentou "problemas de fundição, porosidades generalizadas, trincas e rachaduras". Disse também que a obra executada pela artista apresenta diferenças em relação ao próprio projeto original.

Declarou também que foi obrigada a refazer a bandeira e o braço que a suportam em razão de furtos. "As diferenças [no monumento após o restauro] ocorreram, pois, a prefeitura não dispõe de um molde da escultura, além de serem poucas as fotografias que retratam a peça detalhadamente."

Continua após a publicidade

Afirmou ainda que a própria artista, ao longo dos anos, vem comercializando reproduções do monumento, mas com diferenças de características, "sem rigor em relação ao projeto original".

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.