Rogério Gentile

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Reportagem

Alunos terão de pagar R$ 20 mil a professor impedido de dar aula na Unicamp

A Justiça paulista condenou dois estudantes a pagar uma indenização de R$ 20 mil a um professor da Unicamp que, durante uma greve, foi impedido por eles de dar aula. O episódio ocorreu em 2016, em Campinas (SP).

O professor Serguei Popov, russo naturalizado brasileiro, dava aula no Instituto de Matemática quando um grupo de alunos invadiu a sala e o interrompeu com gritos, palavras de ordem e batucada. Descrição da cena consta na decisão.

Ele ainda tentou continuar sua explanação, mas um dos estudantes passou a apagar toda a matéria que estava exposta na lousa.

A cena foi gravada, e o vídeo viralizou na internet. (veja aqui)

Na ação aberta contra os alunos, Popov disse que a atitude representou um desrespeito a si e aos estudantes que queriam assistir à aula. "Houve patético deboche", declarou à Justiça.

A greve estava sendo realizada em protesto contra cortes de verbas na universidade e a ausência, à época, de uma política de cotas étnico-raciais.

O professor disse na ação que não se pode admitir que grevistas imponham a paralisação aos que não querem participar.

Ele afirmou ainda que, além de ser impedido de dar aula, sofreu ataques por parte de estudantes na internet, sendo "ridicularizado publicamente".

Os desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo condenaram os estudantes Guilherme Victor Montenegro (que apagou a lousa) e Emilly Chagas, além do Diretório Central dos Estudantes. Eles ainda podem recorrer.

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Outros alunos que também haviam sido arrolados no processo foram absolvidos por falta de provas.

"Os fatos evidenciam que, inegavelmente, houve interrupção coercitiva da atividade praticada pelo autor do processo, que foi submetido a situação vexatória perante os demais estudantes presentes", afirmou na decisão o desembargador Antonio Rigolin, relator da ação.

Na defesa apresentada à Justiça, os alunos afirmaram que o professor, ao abrir o processo contra eles, estava tentando impor sua posição antigreve. Disseram se tratar de uma perseguição política contra lideranças do movimento negro e estudantil.

Eles afirmaram não serem responsáveis pelas publicações contra o docente na internet e que não cometeram nenhum ato de agressão ou ameaça.

"Não há que se falar em interrupção de aula, tendo em vista a greve aprovada por três categorias [alunos, docentes e funcionários]", afirmaram na ação.

Eles disseram que o professor, na verdade, "fingia dar uma aula", fazendo uma "simulação" para produzir uma gravação e expor os líderes da greve.

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"Tratou-se antes de tudo de uma armadilha", declararam na ação, ressaltando que o professor usava fone de ouvidos durante a aula, "demonstrando nenhuma interação pedagógica com o ambiente 'de aula'". "Aliás, sequer tinha ali, naquele momento, alunos para assistir à aula."

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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