Rogério Gentile

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Justiça nega recurso de Abel contra jornalista: 'Colonizador não é ofensa'

A Justiça paulista rejeitou recurso do treinador Abel Ferreira que pedia a condenação do jornalista Luís Augusto Menon por crime de difamação (cuja pena varia de três meses a um ano de detenção) em razão de textos publicados em 2022.

O jornalista, que à época trabalhava no UOL, afirmou que o treinador mantinha uma "ridícula postura de colonizador", comparando-o aos jesuítas José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, que atuaram na catequização dos indígenas, querendo "ensinar, domesticar e colonizar".

"Abel Ferreira tem orgulho de como seus antepassados exploraram o Brasil?", escreveu o jornalista. "Vieram para cá, fugindo de Napoleão, deixando o povo à sua própria sorte e viveram explorando nossas riquezas."

A crítica foi feita por Menon após uma entrevista na qual Abel abordara um episódio envolvendo um jovem jogador do Palmeiras, que fora filmado ingerindo bebida alcoólica na véspera de uma partida.

Na ocasião, o treinador afirmara que os atletas brasileiros, embora sejam tecnicamente superiores, precisam "evoluir ao nível de educação e de sua formação enquanto homens". Disse que cabia ao clube e à comissão técnica ajudar "a educar o homem".

Abel, que chegou ao Brasil em 2020 e se tornou o treinador com mais títulos conquistados na história do Palmeiras, disse na ação que apenas tratara de fatos públicos e notório relativos à defasagem da educação básica no Brasil e que o jornalista o ofendera com "absurda e desonrosa comparação com os colonizadores portugueses".

Ele afirmou que jornalista quis manchar sua reputação, colocando-o como uma pessoa xenofóbica.

Menon declarou na defesa apresentada à Justiça que apenas exercera seu direito de crítica, citando o direito constitucional à liberdade de expressão.

"Não se pode perder de vista que é da essência do regime democrático o confronto de ideias, justamente para alcançar a liberdade de expressão e o pluralismo político, mesmo que as opiniões sejam divergentes", afirmou à Justiça o advogado Ivan Freitas Jr, que representa Menon.

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A Justiça rejeitou a ação em primeira instância no ano passado. Abel recorreu, mas foi novamente derrotado.

"As opiniões e críticas proferidas pelo jornalista permaneceram dentro dos limites da crítica regular e estão resguardadas pelo direito à liberdade de expressão e manifestação de pensamento, sem configurar ofensa ou difamação à honra do treinador", afirmou o desembargador Tetsuzo Namba na decisão assinada ontem.

Abel ainda pode apresentar novo recurso.

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