Aluna da USP que desviou R$ 1 mi passará por exame mental: pode ser médica?

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A Justiça determinou que Alicia Dudy Muller Veiga, de 27 anos, que confessou ter desviado R$ 937 mil arrecadados pela comissão de formatura dos estudantes da Faculdade de Medicina da USP, passe por um exame de insanidade mental.
O teste psiquiátrico será feito pelo Imesc (Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo) e o objetivo principal é avaliar se ela tinha capacidade à época dos fatos de compreender a natureza dos seus atos.
A então estudante, que recentemente obteve o registro do Conselho Regional de Medicina para atuar como médica, alegou no processo possuir uma doença psicológica com episódios depressivos frequentes, "situação agravada pela pandemia do coronavírus".
"Não se tratava de sentir certo medo e um frio na barriga de emoção comum e que surge diante de momentos difíceis. Era muito mais!", afirmou à Justiça o advogado Sérgio Giolo, que a representa. "Com o passar do tempo e sem o atendimento médico devido, ela só viu aumentar os episódios de pânico e medo irracionais. Sua doença só piorou", declarou no processo, acrescentando que Alicia também é viciada em jogos.
O Ministério Público disse à Justiça que a ex-estudante, que foi presidente da comissão de formatura, procura se "safar" do processo alegando possuir problemas psicológicos e estranhou que ela, diante desse quadro, tenha condições de trabalhar como médica.
"De um lado a ré vem aqui alegar possuir problemas psiquiátricos para minimizar as consequências de seus atos", afirmou à Justiça o promotor Vagner Queiroz. "De outro, vai consultar pessoas doentes, prescrever remédios e atuar como se nada desses problemas psicológicos e psiquiátricos realmente existissem".
Diante da argumentação do Ministério Público, a juíza Adriana Costa determinou que a perícia avalie também se ela tem condições de exercer a medicina.
Alicia já fez plantões médicos
A coluna apurou que, no início do ano, Alicia chegou a fazer plantões médicos em duas unidades da COAPH (Cooperativa de Trabalhos de Atendimento Pré e Hospitalar).
O advogado da ex-estudante protestou contra a inclusão do quesito sobre a sua capacidade de trabalhar argumentando que a competência para avaliar a adequação da sua inscrição nos quadros do Conselho Regional de Medicina é unicamente do próprio CRM.
"Nem o Ministério Público nem a Justiça criminal têm atribuição para interferir nesse registro", afirmou o advogado à Justiça.
A juíza não aceitou a argumentação e confirmou a realização da perícia. Ela ainda pode recorrer.
A investigação contra a estudante começou depois que uma colega registrou um boletim de ocorrência na polícia. Alicia teve o seu sigilo bancário quebrado, de modo que foi possível rastrear o uso dado a parte do dinheiro.
Segundo a polícia, ela comprou um IPad Pro de R$ 6.000, alugou um apartamento por R$ 3.700 durante cinco meses (incluindo o valor do condomínio) e alugou um carro por R$ 2.000.
"São 110 alunos que se esforçaram para entrar na faculdade de medicina da USP e agora estão vendo esse sonho [da formatura] correndo risco", afirmou em janeiro de 2023 a delegada Zuleika Gonzalez Araújo.
Em depoimento à polícia, Alicia disse que o dinheiro não estava sendo bem gerido pela empresa contratada para cuidar da formatura e que resolvera administrá-lo por conta própria, mas que acabou fazendo péssimas aplicações, perdendo valores. Ela afirmou ainda que tentou recuperar os recursos fazendo apostas em uma lotérica.
A ex-estudante é alvo de duas ações criminais. A primeira, na qual ela foi condenada por estelionato em primeira instância a cinco anos de reclusão em regime semiaberto, é justamente sobre o desvio dos valores da comissão de formatura. Ela recorreu da decisão, mas ainda não houve novo julgamento.
No segundo processo ela é acusada de tentar dar um golpe na lotérica na qual tentava reaver os valores perdidos. É nesse processo que foi determinada a perícia.
Alicia, segundo a denúncia, telefonou para a lotérica onde habitualmente fazia apostas e, aproveitando-se da relação de confiança que desenvolvera com a gerente do estabelecimento, solicitou a realização de apostas no valor de R$ 890 mil. Parte das apostas (R$ 192,9 mil) já havia sido realizada pela lotérica quando a empresa notou que ela não fez o Pix prometido para o pagamento.
A defesa afirma que ela é inocente e que as provas anexadas aos autos não demonstram que ela tentou cometer uma fraude. "Alicia não incorreu no delito que está sendo acusada".
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