Rogério Gentile

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Reportagem

Globo perde recurso e terá de indenizar goleiro por reprisar 'frango'

A Justiça paulista rejeitou recurso da Rede Globo e condenou a emissora a pagar uma indenização de R$ 30 mil ao goleiro Alexandre Cajuru, 32, por ter reprisado sistematicamente na programação da Sportv uma falha que ele cometeu em 2020.

O erro ocorreu durante uma partida da Série B do Campeonato Brasileiro. Cajuru atuava pelo CSA e tomou um gol ao não segurar uma bola fácil, que havia sido chutada por um atleta da Ponte Preta de longe.

"Cajuru, que é isso?", disse o locutor na ocasião. O CSA acabou perdendo a partida por 2 x 1.

De acordo com a ação aberta pelo atleta, a emissora exibiu a imagem ao menos 4.800 vezes ao criar um vídeo sobre "os vacilos dos goleiros do Brasileirão", com inserções antes das partidas, nos intervalos e após os jogos dos torneios das séries A e B.

"Como era de se esperar, [a exibição reiterada] trouxe sérios dissabores, em virtude da repercussão no meio do futebol onde o goleiro vive e trabalha", afirmou à Justiça o advogado João de Araújo Júnior, que representa Cajuru.

"O que a emissora está fazendo com o ser humano extrapola todos os sensos comuns. Tais fatos destruíram a carreira de um jovem com muitos sonhos", ressaltando que ele não conseguiu renovar seu contrato e passou a enfrentar dificuldades para conseguir trabalhar em outros clubes.

Goleiro alegou que emissora não deixa 'sociedade esquecer' do lance

O goleiro afirmou no processo que já havia sofrido um grande abalo emocional em razão da falha, sentindo-se culpado. Mas achava que, com o tempo, os torcedores e os dirigentes se esqueceriam do ocorrido.

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"A Globo, porém, com nítido cunho vexatório, não deixa a sociedade esquecer", declarou o advogado no processo. A repetição sistemática, disse, gerou um novo trauma.

'Fantasioso', disse Globo no processo

Em outubro de 2023, a emissora foi condenada em primeira instância, mas recorreu alegando que o cálculo das vezes em que a inserção foi exibida é "fantasioso".

"Apesar dessa criativa contagem, o goleiro somente foi capaz de comprovar [nos autos do processo] a exibição do vídeo em três oportunidades", declarou a Globo à Justiça.

De acordo com a emissora, o vídeo "Top 3 vaciladas no Brasileirão 2020" fez parte de uma série de pílulas informativas da programação da Sportv enumerando os destaques positivos e negativos dos campeonatos de futebol.

"Mas, ao contrário do alegado, o vídeo não foi exibido todos os dias", afirmou a emissora no processo, sem citar o número de vezes em que a inserção foi repetida na programação. Disse apenas que foram exibições pontuais. "Nada além disso."

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A Globo declarou que não cometeu ato ilícito e que apenas reproduziu, "sem comentários pejorativos", as falhas dos goleiros, "tais como foram transmitidas ao vivo aos telespectadores".

O Tribunal de Justiça de São Paulo não aceitou a argumentação e manteve a condenação.

O desembargador Marcello Perino, relator do processo, afirmou na decisão que a Globo extrapolou no direito de informar, levando o goleiro ao constrangimento, "visto que ocorreu alta exposição, com transmissão abusiva do lance".

A Globo ainda pode apresentar novo recurso.

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