Rogério Gentile

Rogério Gentile

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

Blogueira vítima de agressão brutal em boate espera justiça há 10 anos

A biomédica e blogueira Thetys Carol estava na danceteria Le Rêve Club, na Consolação, em São Paulo, quando sofreu um empurrão. Logo, passou a ser atingida por socos, foi jogada ao chão e teve sua cabeça batida contra o piso. Desmaiada, foi esganada no pescoço, numa tentativa de enforcamento que só acabou quando outras pessoas interferiram.

O caso ocorreu em abril de 2015. Dez anos depois, Carol ainda aguarda que Rosângela Aparecido Ribeiro, a mulher acusada pelo Ministério Público pelas agressões, seja julgada.

A blogueira sofreu lesões gravíssimas. Teve fraturas no crânio e nos ossos da face, traumatismo crânio cervical e uma compressão medular irreversível. Passou por cinco cirurgias e quase ficou paraplégica. Hoje convive com 12 pinos no pescoço, uma bengala e doses periódicas de morfina para suportar a dor.

De acordo com o processo, o caso de fúria ocorreu por ciúmes. A blogueira, que havia ganhado à época notoriedade nas redes sociais após perder 36 quilos em cinco meses, ficara com um rapaz com a qual Rosângela tinha um relacionamento amoroso.

"Há de se reconhecer que o crime de homicídio apenas não se consumou por circunstâncias alheias à vontade de Rosângela, pois foi impedida de prosseguir nas agressões", disse à Justiça a promotora Luciana André Jordão Dias.

Rosângela saiu do país em 2017 e acabou sendo presa em Portugal em julho de 2023. Extraditada para o Brasil, obteve uma decisão favorável que lhe revogou a prisão preventiva em dezembro daquele ano.

Em interrogatório policial, Rosângela negou a virulência das agressões. "Foi briga de puxão de cabelo", declarou. Ela disse à polícia que em nenhum momento teve a intenção de machucar ou matar a blogueira, e que foi agredida primeiro, com uma garrafada. Afirmou que apenas se defendeu.

"É realmente incrível ver que, Rosângela, que inicialmente foi agredida com uma garrafada na cabeça, única vítima na pura essência do termo, tenha sido transformada em ré, inicialmente por lesão corporal e agora por tentativa de homicídio", disse à Justiça sua defesa no processo.

"É óbvio que os fatos não se desenrolaram como consta da tendenciosa denúncia", declarou a defesa no processo.

Citando testemunhas, Carol disse à Justiça que as alegações de Rosângela não se sustentam e que as agressões foram premeditadas, pois "ela tinha informações de que estaria na boate na noite dos fatos". Ela disse que a acusada é fisicamente maior, com 1,75 metro de altura contra o seu 1,51 m.

"Hoje, dez anos depois, a cicatriz não é apenas na pele. A dor maior é pela demora na Justiça", afirmou a blogueira em mensagem à coluna.

Continua após a publicidade

"Eu sobrevivi. Mas quantas não sobrevivem? Minha luta não é mais só por mim. É para que a justiça aconteça, para que nenhuma mulher precise viver o que vivi", declarou, ressaltando que hoje se dedica a ações de conscientização sobre violência contra a mulher, além de temas relacionados à autoestima, saúde física e mental.

A Justiça marcou o julgamento para o dia 15 de outubro deste ano, mas não há nenhuma garantia de que, mesmo com eventual condenação, haja punição efetiva.

Rosângela, segundo a Justiça, "está em local incerto e não sabido" e é considerada foragida desde que, em abril do ano passado, foi expedido um novo mandado de prisão, nunca cumprido.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.