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Ronilso Pacheco

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

'Viúvas de Trump' travam guerra político-cultural após eleição de Biden

4.jan.2021 - O ex-presidente dos EUA Donald Trump durante comício na Geórgia - Mandel Ngan/AFP
4.jan.2021 - O ex-presidente dos EUA Donald Trump durante comício na Geórgia Imagem: Mandel Ngan/AFP

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Os Estados Unidos vivem hoje verdadeira batalha político-cultural, fruto de uma reação ultraconservadora, com políticos republicanos e eleitores fiéis a Trump que não baixaram a guarda após a vitória do democrata Joe Biden.

É como se a invasão do Capitólio em 6 de janeiro fosse apenas um prenúncio de que a direita extremista, cristã e com seus supremacistas brancos está disposta a "tomar os EUA de volta" e inviabilizar o país para quem não é conservador, cristão ou branco.

Isto significa que não está em questão um debate de ideias e propostas apenas divergentes ideologicamente.

A lógica é de ataque deliberado a direitos de minorias, retorno às condições de voto à época da segregação e padrão cristão conservador determinando impositivamente o que deve ser vivido por todos

Mobilização cristã contra minorias

No dia 25 de fevereiro, a Câmara dos Representantes (equivalente à Câmara dos Deputados) aprovou o projeto da Lei da Igualdade, que em linhas gerais proíbe a discriminação com base na orientação sexual e identidade de gênero.

Agora o projeto está no Senado e o seu futuro é absolutamente incerto. A aprovação na Câmara levantou forte movimento dos conservadores americanos, principalmente os movimentos cristãos evangélicos e católicos, que estão nacionalmente mobilizados para impedir que o projeto passe.

Teoria Crítica Racial

Ao mesmo tempo, conservadores e supremacistas brancos estão em uma verdadeira caça às bruxas contra a TCR (Teoria Crítica Racial). O conceito e movimento surgiram na década de 80, entre intelectuais negros de importantes universidades americanas, principalmente da área do Direito.

A TCR se tornou fundamental ao propor que nenhuma dimensão da vida social na realidade dos EUA (educação, saúde, economia, segurança) poderia ser compreendida de maneira total e justa, sem que as implicações do racismo e a influência do período escravocrata e de segregação fossem levadas em consideração.

Pois agora a TCR passou a ser atacada diariamente, e cresce cada vez mais o argumento de que o conceito funciona como uma espécie de "racismo reverso" e estaria dividindo o país, semeando ódio à nação.

No último dia 17, Ron DeSantis, governador da Flórida, proibiu o uso da TCR nas escolas e em workshop de treinamento de agentes de segurança. Imediatamente, vários outros prefeitos e governadores republicanos se inspiraram na ação de DeSantis. A aposta conservadora é um currículo baseado em uma "educação cívica" (alguém pensou nas escolas cívico-militares?).

Na Georgia —estado que foi crucial para a vitória de Biden graças ao voto dos eleitores negros e que elegeu seu primeiro senador negro na última eleição, o pastor Raphael Warnock—, os legisladores propuseram uma medida que reduziria significativamente o acesso ao voto.

Com maioria branca e republicana, o projeto foi visto como uma resposta rápida dos conservadores para impedir o surgimento de um "novo Warnock".

Acesso ao voto e George Floyd

Esta é a mesma disputa que está no Senado neste momento. Há uma verdadeira batalha em torno do projeto chamado de Lei do Povo, mais conhecido por lá como HR1 (House of Representative), que busca ampliar o direito a voto e mudar as leis de financiamento de campanha.

O projeto é considerado uma ameaça por republicanos —novamente brancos conservadores e religiosos entram em cena—, porque, conforme disse o próprio senador republicano Ted Cruz, permitiria que milhões de imigrantes ilegais votassem, e esses votos dificilmente iriam para o Partido Republicano.

Tudo isso deve ser somado ao clima em torno do julgamento do ex-policial Derek Chauvin, que assassinou George Floyd e inflamou um movimento antirracista mundial. A fase de seleção do júri chega ao fim esta semana e terá início a fase das declarações de acusação e defesa.

No entanto, a reação conservadora e extremista está conseguindo gritar cada vez mais alto e mais à vontade em defesa de Chauvin, afirmando que se tratava de um policial "cumprindo o seu dever", enquanto Floyd se recusou a obedecer e teria morrido não pela ação do policial branco, mas por drogas que ele teria consumido, causando-lhe uma overdose.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi informado, Ron DeSantis é governador da Florida, e não da Califórnia. A informação foi corrigida.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL