Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Por que julgamento do policial que matou Floyd resume história dos EUA
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Em Mineápolis, milhares de soldados da Guarda Nacional estão espalhados pelas ruas da cidade, enquanto empresas foram fechadas com tapumes e cercas colocadas em volta dos principais edifícios.
A cidade que sedia o julgamento de Derek Chauvin, o policial que matou George Floyd, "fechou" e o que se vê nas ruas são policiais, soldados e manifestantes que chegam de todo o país.
Em Illinois, o governador J. B. Pritzker ativou 125 membros da Guarda Nacional para apoiar a Polícia de Chicago. Em Washington, funcionários do governo solicitaram a assistência da Guarda Nacional na cidade em caso de protestos em grande escala.
A NBA, a poderosa liga de basquete americana, instruiu os times a ficarem vigilantes sobre o impacto de um veredicto nesta semana, incluindo a possibilidade de adiamento do jogo. As principais redes de TV dos Estados Unidos focam a cobertura do veredito e, principalmente, as reações no momento que a decisão do júri for conhecida.
O presidente Joe Biden está avaliando como lidar com o veredicto no julgamento, seja qual for —a definição passa por se dirigir à nação inteira, com uma mensagem mais geral pedindo protestos pacíficos, ou uma mensagem clara diretamente para a comunidade afro-americana do país.
Tudo isto é para dar a dimensão do que significa o julgamento de Derek Chauvin e como o próprio país se reconhece neste julgamento. Não é exagero dizer que a história do país está resumida no julgamento em Minnesota, e que este não é o julgamento mais importante das últimas décadas por acaso.
Ecos de Trump impulsionam guerra política e cultural
Os Estados Unidos saíram completamente afetados pelo trumpismo e sua canalização do protagonismo da supremacia branca, ataques racistas e o ultra conservadorismo evangélico branco. O assassinato de George Floyd, à luz do dia e lentamente, visto pelo mundo inteiro, acendeu um poderoso movimento antirracista nos Estados Unidos e mundo afora, incluindo o Brasil.
A derrota de Donald Trump se tornou também a derrota política de muitos desses movimentos racistas, supremacistas, ultra conservadores e fundamentalistas religiosos. A invasão ao Capitólio em 6 de janeiro foi a resposta mais rápida e inesperada dos saudosos da era Trump que não demoraram a responder como irão ao limite para "ter o país de volta".
Mas esta disputa não se restringiu a extremistas civis admiradores de Trump. O Partido Republicano não demonstrou qualquer interesse em se desvincular das ideias trumpistas e assumiu uma disputa que coloca os EUA, nesse momento, em uma verdadeira guerra política e cultural.
Entre as disputas, estão a batalha contra a supressão de votos na Geórgia, com um projeto de lei que interfere diretamente no acesso da população negra ao voto, e a luta para banir a chamada Teoria Crítica Racial de currículos escolares e formação de agentes de segurança, o que permitia a questão racial ser um elemento importante para pensar justiça e direitos civis no país.
O projeto da Lei da Igualdade, que está no Senado, enfrenta verdadeira investida dos republicanos e de conservadores religiosos, porque beneficia e alcança de maneira mais ampla a população LGBTQIA+.
Para além da disputa política parlamentar entre republicanos e democratas, o embate se espalha pelo país. Há professores universitários progressistas sendo silenciados, monitorados. Ataques com tiros voltaram a ser frequentes e símbolos da era da escravidão, como a forca, são encontrados em universidades, como uma espécie de sinal ou "mensagem".
Tudo isso está canalizado no julgamento de Chauvin?
A resposta é sim. A depender do veredito, toda essa tensão pode explodir simultaneamente no país. Desde a era da segregação, desde a era do reverendo Luther King, o país, de maneira generalizada, não se encontrava nesta frequência.
Esta pode ser uma semana decisiva para o país que se considera a maior democracia do mundo. E é bom que não esqueçamos, que esta situação limite tem a ver com raça e racismo e vem de longe, como no Brasil, embora a sociedade brasileira transite entre o silêncio e a dissimulação.
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