Na 'TV Bolsonaro', seguidores pedem ao presidente fim do isolamento e golpe
Imagine um canal de TV que transmitisse de forma ininterrupta, 24 horas por dia e em todos os dias da semana, pronunciamentos, entrevistas e falas do presidente Jair Bolsonaro. Ele já existe, chama-se "TV Bolsonaro", um projeto montado pelo clã do presidente. Atrai milhares de seguidores do presidente que pedem, em mensagens, o fim do isolamento social, o fechamento do Congresso e um golpe militar, entre orações e manifestações de apoio.
Embora muito menos conhecida que as páginas das principais redes sociais do presidente, como Facebook e Twitter, que têm milhões de seguidores, a "TV Bolsonaro" era acompanhada, até a noite deste domingo (12), por um contingente considerável de 228 mil pessoas.
A "TV" só funciona por meio de um aplicativo, o Mano, que precisa ser baixado em um telefone celular. A partir dali, o internauta e compartilhar os vídeos em todas as outras redes sociais. Ela usa vídeos de diferentes fontes, das conversas de Bolsonaro na frente do Palácio da Alvorada com admiradores a gravações oficiais da Presidência.
Abaixo dos vídeos há espaço para a postagem de mensagens dos espectadores, que também podem conversar entre si. Centenas de mensagens são postadas diariamente por bolsonaristas que exigem do presidente as mais variadas atitudes. As mais comuns nos últimos dois dias: que ele dê um jeito de encerrar a estratégia adotada por governos e prefeituras no combate ao novo coronavírus; que puna governadores e prefeitos; que dê um golpe de Estado com apoio das Forças Armadas, fechando o Congresso Nacional e o STF (Supremo Tribunal Federal); e que acabe com "o comunismo" no Brasil e no mundo.
Também há mensagens que dirigem orações ao presidente, manifestam apoio e xingam variados alvos, como emissoras de TV e a OAB, que recentemente moveu uma ação no STF para garantir que os Estados e prefeituras tenham o poder de decisão sobre a melhor estratégia para impedir a expansão do novo coronavírus.
Muitas das mensagens são escritas diretamente ao presidente, como se fosse uma conversa. "O sr. tem autonomia sobre os Estados e governantes. Procure saber mas o que ele [jurista] diz que o sr. pode, sim, mandar os Estados e municípios trabalhar", disse um internauta ontem às 19h21. "Manda os governadores deixar as pessoas até 50 anos trabalhar", escreveu outro seguidor, no mesmo horário.
"A OMS [Organização Mundial da Saúde] não manda no Brasil, OAB e governadores vão pagar nossas contas?", indaga outro internauta. "Abençoada Páscoa a todos. STF tem que fechar e os salários deles usados para essa situação do Covid-19", diz outro seguidor.
A origem da "TV" tem relação com reclamações do clã Bolsonaro sobre as plataformas das redes sociais, como o Facebook. O clã se dizia perseguido. Durante a campanha eleitoral de 2018, o anúncio do canal foi feito pelo hoje senador Flávio Bolsonaro (RJ). Ele gravou um vídeo, que chamou de "convocação", para pedir às pessoas que baixassem o aplicativo.
"Como muitos de vocês já sabem, o alcance de nossas postagens em redes sociais, como o Facebook, por exemplo, está sendo absurdamente restringido. Eles entregam aquilo que a gente posta para uma parcela muito pequenininha dos nossos seguidores. E para combater isso a gente está agora criando uma plataforma própria, um canal chamado TV Bolsonaro", disse Flávio, em um vídeo compartilhado nas redes sociais do clã.
Flávio pediu que as pessoas pedissem ao aplicativo para receberem alerta de conteúdo novo. "Dessa forma, sempre que a gente começar uma transmissão ao vivo, por exemplo, você vai ser notificado de que ela está acontecendo. Para nós, é a garantia de que tudo aquilo que a gente produza, todo nosso conteúdo, vai chegar para 100% de todos vocês que nos seguem", diz, no vídeo, o então candidato ao Senado.
"E também é um canal muito prático, ele vai ter uma programação permanente 24 horas por dia, passando lá vídeos, entrevistas de toda a família Bolsonaro, e também muito conteúdo de todos os nossos colaboradores, separados por tema."
Em abril de 2019, o UOL falou com a Ip TV, que é a desenvolvedora do aplicativo que hospeda a "TV Bolsonaro". Ela disse que não tem "viés ou vínculo político" e negou qualquer parceria ou elo com a família Bolsonaro. A reportagem ouviu Bruno Silva, diretor jurídico da empresa, que afirmou: "O aplicativo está aberto à adesão de qualquer pessoa, grupo ou associação que deseje fazer parte dessa nova rede social. No ano passado [2018], Flávio Bolsonaro criou um canal e, assim como se deu em outras redes sociais, seu canal atraiu interessados em quantidade compatível com a notoriedade da família Bolsonaro".
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