Topo

Rubens Valente

Bolsonaro não demonstrou insatisfação com caso Adélio, diz superintendente

Adélio Bispo de Oliveira confessou ter esfaqueado Jair Bolsonaro - Ricardo Moraes - 8.set.18/Reuters
Adélio Bispo de Oliveira confessou ter esfaqueado Jair Bolsonaro Imagem: Ricardo Moraes - 8.set.18/Reuters

Colunista do UOL

20/05/2020 17h08

O superintendente da Polícia Federal em Minas Gerais, Cairo Costa Duarte, disse nesta quarta-feira (20) em Brasília, que esteve com o presidente Jair Bolsonaro e ele não demonstrou "insatisfação com as investigações" sobre o inquérito que tratou de Adélio Bispo de Oliveira, que tentou matar o então candidato à Presidência com uma faca em setembro de 2018.

O depoimento do superintendente - prestado no inquérito que investiga as denúncias do ex-ministro Sérgio Moro de suposta interferência do presidente Jair Bolsonaro no comando da PF - contrasta com as insistentes vezes em que Bolsonaro, seu clã familiar e seus apoiadores se referem ao caso Adélio em público e em redes sociais, sugerindo que o caso foi mal investigado ou conduzido. A julgar pelo depoimento do delegado, quando Bolsonaro teve a oportunidade de manifestar sua contrariedade pessoalmente às autoridades da PF, não o fez.

O mesmo argumento de que o caso Adélio foi pouco aprofundado foi usado por Bolsonaro no último dia 2 de maio, dias depois da saída de Moro do Ministério da Justiça. Ao postar um vídeo com uma teoria conspiratória sobre o caso Adélio, Bolsonaro escreveu numa rede social: "O Judas, que hoje deporá, interferiu para que não se investigasse?"

O delegado Cairo Duarte explicou ainda, no depoimento, que "nunca chegou a ser cobrado quanto ao repasse de informações do 'caso Adélio' para a Presidência da República, tampouco para o Ministério da Justiça ou a direção-geral da PF".

O superintendente foi indagado sobre o caso das candidaturas "laranjas" do PSL, também investigado pela PF de Minas Gerais, e respondeu "não ter conhecimento de repasse direto de informações dessa apuração para a Presidência da República".

Duarte foi empossado no cargo em Minas Gerais em janeiro de 2019 pelo então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo. Durante a sua gestão na superintendência mineira, transcorreu boa parte do segundo inquérito sobre o caso Adélio, que apurou se havia alguém por trás dele no atentado de setembro de 2018 contra o então candidato à Presidência Bolsonaro - o segundo inquérito foi relatado pela PF na semana passada sem apontar qualquer evidência de que houve um mandante para o crime.

Um primeiro inquérito, fechado ainda em setembro em 2018, já havia concluído que Adélio agira sozinho, motivado por suposto "inconformismo político". Adélio passou por três exames de sanidade mental a mando da Justiça Federal. Os laudos afirmam que Adélio sofria de um transtorno mental e, por isso, foi considerado pela Justiça "inimputável" e não chegou a ser julgado pelo crime. A Justiça decidiu que passe por tratamento mental em regime fechado.

Mesmo com as conclusões da PF, Bolsonaro e seu grupo político continuam levantando a teoria conspiratória de que houve patrocinadores do atentado. A teoria não se confirmou ao longo dos dois inquéritos tocados pela PF.

Na PF desde 2003, Duarte foi superintendente da PF em Pernambuco, por um ano e meio, delegado regional de Investigação e Combate ao Crime Organizado da Superintendência Regional de PF no Distrito Federal e delegado regional executivo, ou "número dois", na mesma Superintendência.

O UOL teve acesso ao depoimento de Duarte e este texto será atualizado.