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Tales Faria

Para o Planalto, Joice Hasselman chantageia o presidente Jair Bolsonaro

Colunista do UOL

24/10/2019 14h50

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O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) não tinha ainda votos suficientes para a aprovação de seu nome como embaixador do Brasil nos EUA. Mas não estava longe de obtê-los.

Segundo articuladores políticos do governo ouvidos pelo blog, não foi por acreditar na derrota que Eduardo desistiu da indicação à embaixada. O deputado ainda acreditava que poderia conquistar os votos dos senadores.

A recomendação para desistir partiu mesmo de seu pai, o presidente Jair Bolsonaro.

A nomeação diplomática, antes prioritária, tornou-se secundária diante da disputa pelo controle do Diretório do PSL em São Paulo. Afinal, essa disputa passou a colocar em risco o mandato do próprio presidente.

Tudo começou porque a família Bolsonaro não aceita abrir mão do controle da legenda em São Paulo e no Rio de Janeiro. Isso implica o poder de distribuir cargos, candidaturas e a grana dos fundos partidário e eleitoral nos estados dos três filhos de Bolsonaro.

E a deputada Joice Hasselman (PSL-SP) decidiu que quer concorrer a prefeita da cidade de São Paulo. Se Joice concorre pelo partido e vence, passa a ter poder de tomar definitivamente de Eduardo o controle da sigla no Estado.

A deputada já tinha a vaga de candidata prometida pelo presidente nacional da legenda, deputado Luciano Bivar (PE). Quando Bivar e o presidente Bolsonaro romperam, ela teve que optar por quem lhe garantia a legenda.

Mas os bolsonaristas demonstraram força contra o grupo de Bivar quando fizeram correr a primeira lista na bancada para destituir o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO).

Joice nunca morreu de amores por Waldir, mas teve que assinar a lista contrária à sua destituição. Não podia ficar longe de Bivar.

O choque com o clã Bolsonaro, então, se mostrou inevitável, ameaçando sua candidatura a prefeita.

Na avaliação dos articuladores políticos do presidente da República, foi aí que começou a suposta chantagem.

Frequentadora assídua da cúpula da campanha presidencial de 2018, da equipe de transição de governo e dos primeiros meses da gestão, Joice Hasselman passou a ameaçar o presidente e seus filhos com a revelação de segredos do bolsonarismo.

A deputada virou alvo dos mesmos ataques nas redes sociais que os adversários de Bolsonaro e do governo recebem. Proliferaram memes e fake news xingando-a de gorda e traidora.

Joice, então, soltou o primeiro petardo: disse a Marco Britto, do UOL, que os disparos de fake news partiriam de uma milícia comandada por funcionários dos filhos de Bolsonaro.

Depois, arrematou na Globo News que eles atuaram até mesmo no gabinete do presidente da República, no Planalto.

Se isto for confirmado, a equipe de campanha de Bolsonaro teria cometido crime eleitoral, passível de cassação do mandato.

Para o Planalto, o presidente tornou-se alvo, então, de uma chantagem explícita da ex-líder do governo no Congresso.

Uma chantagem que, por obra e graça do Centrão e da oposição, tomou corpo na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI, envolvendo Câmara e Senado) sobre as fake news.

Para se ter uma ideia do perigo, basta ver alguns dos convocados pela CPMI das Fake News nesta quarta-feira no Congresso.

O secretario de Comunicação do Planalto, Fabio Wajngarten, e o assessor especial da Presidência, Felipe Martins (blogueiro e influenciador digital).

Também foram convocados três assessores da Presidência apelidados de "Gabinete do ódio": Tercio Arnaud Tomaz, José Matheus Sales Gomes e Mateus Matos Diniz. O grupo é ligado a Carlos Bolsonaro, o filho 02 do presidente e vereador no Rio de Janeiro cuja convocação também está sendo discutida.

Outro convocado perigosíssimo é o suplente do senador Flávio Bolsonaro, Paulo Marinho. Sua casa foi um bunker das filmagens da campanha. Ele mesmo declarou que também foi um centro de gravação de fake news.

A própria Joice Hasselman está sendo convidada a depor na CPMI, assim como o ex-líder da bancada Delegado Waldir (GO), que disse que iria implodir o presidente.

Sem esquecer outro que muito viu no Planalto, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-chefe da secretaria de Governo da Presidência e um velho amigo que rompeu com o presidente. Ele foi atacado ferozmente por Carlos Bolsonaro e pelo guru bolsonarista Olavo de Carvalho.

Quando pediu ao filho Eduardo que desistisse da embaixada nos EUA, Bolsonaro determinou que o deputado tente, de qualquer maneira, solucionar a questão em São Paulo. Ali é a origem da encrenca e da suposta chantagem,

Bolsonaro disse ao filho que pode solucionar a crise passando o trator sobre Joice ou com um acordo entre as diversas alas do PSL.

A estratégia de Eduardo Bolsonaro como líder na Câmara será a mesma do presidente na política em geral: primeiro reunir sua tropa mais fiel. Depois, tentar ampliar seu exército. Por fim, partir para a guerra em São Paulo. Ou, se já fortalecido, para um acordo.

A avaliação é de que a tropa mais fiel do bolsonarismo já está unificada.

Agora é hora de buscar um entendimento com a cúpula do PSL visando suspender a troca de tiros e novas denúncias, por exemplo, na CPMI das Fake News. Depois, se isso não for possível, será a hora de tentar metralhar o inimigo.

Com a cúpula pesselista -leia-se Bivar & Cia- ainda é possível um acordo. Quanto a Joice Hasselman, para Bolsonaro e seus aliados, é um caso perdido.