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Tales Faria

Declarações de Eduardo Bolsonaro repetem estratégia do pai como deputado

O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) busca repetir a imagem do pai, o presidente Jair Bolsonaro, junto ao eleitorado - 04.dez.2018 - Adriano Machado/Reuters
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) busca repetir a imagem do pai, o presidente Jair Bolsonaro, junto ao eleitorado Imagem: 04.dez.2018 - Adriano Machado/Reuters

Colunista do UOL

01/11/2019 04h00

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Não foi uma atitude impensada, nem gratuita, a defesa que o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) fez, em entrevista à jornalista Leda Nagle, do Ato Institucional nº 5, o AI-5.

O deputado sonha seguir os passos de seu pai na política. O próprio Jair Bolsonaro acredita que, dos filhos, Eduardo é o que tem chances de chegar aos cargos mais altos.

Daí porque tentou recentemente tornar o filho embaixador em Washington, numa espécie de curso rápido de política internacional. Um atalho para aprender a lidar com os grandes temas da economia e da política.

Na busca pelo sucesso, Eduardo acredita que deve seguir a mesma estratégia que levou o pai a ser vitorioso nas urnas: um discurso conservador radical, absolutamente diferenciado dos demais políticos, como se estivesse nadando contra a corrente.

Jair Bolsonaro fez isso desde 1991, quando assumiu seu primeiro mandato parlamentar.

Em meio às críticas que recebeu nesta quinta-feira por conta da entrevista, Eduardo Bolsonaro fez questão de postar no Twitter o discurso de seu pai na votação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Na ocasião, Bolsonaro dedicou seu voto à "memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff".

Ustra é reconhecido como um dos maiores torturadores do regime militar.

No vídeo postado por Eduardo, o filho está atrás do pai, repetindo as palavras em favor do coronel.

A defesa que ele fez do AI-5 na entrevista a Leda Nagle seguiu ainda os passos de outro discurso de seu pai quando era deputado, em março de 2010.

Da tribuna da Câmara, Bolsonaro reverenciou "o saudoso" ato assinado pelo general-presidente Artur da Costa e Silva, em 13 de dezembro de 1968:

"O Brasil passou da 49ª para a 8ª economia do mundo exatamente por causa disso, porque a roubalheira praticamente não existia. E, quando aparecia, a autoridade era cassada pelo saudoso AI-5, que veio para evitar que o terrorismo se expandisse mais em nosso país."

Eduardo Bolsonaro também imita o pai quando fala na possibilidade de um enfrentamento nas ruas contra aqueles que considera comunistas.

No último dia 29, subiu à tribuna para avisar:

"Se eles começarem a radicalizar do lado de lá, a gente vai ver a história se repetir. Aí é que eu quero ver como é que a banda vai tocar."

Sobre esse assunto, o pai foi até mais agressivo que o filho em uma entrevista na década de 90.

Bolsonaro afirmou que o país só vai melhorar "no dia em que partimos para uma guerra civil aqui dentro (...) matando 30 mil, começando por FHC" (o então presidente Fernando Henrique Cardoso).

Até agora a estratégia de ambos deu certo.

O pai se elegeu presidente da República. O filho saiu de uma eleição com apenas 82.224 votos, em 2014, para se tornar o deputado com o maior apoio das urnas na história, do alto dos seus 1.843.735 eleitores paulistas.

Mas ambos não obtiveram isso tudo apenas por conta própria.

Ocorreu o que os analistas políticos chamam de "uma conjugação de fatores": desde a crise econômica iniciada no segundo governo de Dilma Rousseff, ao desmoronamento da política e do PT causado pela Operação Lava Jato e pelas denúncias do Escândalo do Mensalão.

Praticamente uma tempestade perfeita em favor de radicais da extrema direita sem compromissos com partidos políticos e com histórico desconhecido.

Mas não é tão provável assim que o mesmo quadro se repita.

Quando isso ocorre, é como farsa ou como tragédia, conforme alertou, no "Dezoito do Brumário", aquele filósofo que os Bolsonaro tanto odeiam e que se chamava Karl Marx.