"E se Trump atacar uma instalação do PCC por aqui?", pergunta Etchegoyen
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Ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo de Michel Temer, o general da reserva Sérgio Etchegoyen também foi chefe do Estado Maior do Exército, o que o credencia como profundo conhecedor do pensamento estratégico dos militares brasileiros.
Ele disse ao UOL que considera "um caso extremamente grave" o bombardeio determinado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, a um aeroporto de Bagdá, no Iraque, nesta quinta-feira.
O ataque resultou na morte do general Qassim Suleimani, o chefe da Força Revolucionária da Guarda Quds do Irã. Soleimani era considerado um dos homens mais importantes de seu país.
"A versão americana é de que se estaria preparando um ataque contra alvos americanos. Se os EUA apresentarem provas disso, reduz-se a repercussão. Mas apenas reduz, pois escancara a atitude norte-americana de xerifes do mundo e a visão extraterritorialista de sua legislação", disse Etchegoyen ao blog.
Segundo ele, "alia-se isso ao fato de que Trump se atribuiu direito de vida e morte sobre cidadãos de países com os quais não existe nenhum tipo de conflito além de embates diplomáticos".
Daí por que o militar classifica o ataque como um caso "extremamente grave" para o mundo. Etchegoyen explica:
"Na minha opinião, a gravidade resulta dos precedentes que isso pode gerar. Imagina se ele [Donald Trump] decide atacar uma instalação do PCC que refina drogas para os EUA por aqui?"
O general, no entanto, sublinha que o ataque ocorreu no Iraque, país que, segundo afirma, é tratado como uma verdadeira "casa da mãe Joana" pelos EUA.
Mas Etchegoyen acredita que os EUA não fariam o mesmo bombardeio no Irã:
"Não esqueçamos que Irã e Iraque estiveram em guerra por dez anos. Acho muito pouco provável que os EUA fizessem uma operação dessas em território iraniano. Vale lembrar o fracasso da tentativa de resgatar os reféns americanos no governo Jimmy Cárter."
Ele se refere aos 52 norte-americanos que foram mantidos reféns de 4 de novembro de 1979 a 20 de janeiro de 1981, após um grupo de estudantes e militantes islâmicos tomar a embaixada dos EUA em Teerã, em apoio à Revolução Iraniana.
Carter determinou uma operação de resgate, em 24 de abril de 1980, que resultou na destruição de duas aeronaves e na morte de oito soldados norte-americanos e um civil iraniano. O episódio foi fartamente usado por Ronald Reagan para derrotar Jimmy Carter nas eleições presidenciais daquele ano.
Sérgio Etchegoyen, no entanto, estranha a tímida reação da Rússia ao ataque de Trump no aeroporto de Bagdá. Ele aponta também a fragilidade dos organismos internacionais no momento.
"Foi mais uma operação à revelia do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), aprofundando a imagem de irrelevância daquele fórum e a postura unilateralista americana", disse.
Enfim, Etchegoyen classifica o ataque americano como "um quadro multifacetado e particularmente complexo" do qual o Brasil deve ficar de fora. Quanto ao governo brasileiro se envolver, ele é lacônico e peremptório:
"Não temos nada a ver com isso."
Correção às 8h32: Na versão original deste texto, o general afirmava que a morte do líder e fundador do grupo al-Qaeda, Osama Bin Laden, também havia ocorrido no Iraque. Os norte-americanos o mataram no Paquistão. O general o confundiu com ex-presidente do Iraque Sadam Hussein, caçado e preso no interior do país por forças armadas dos EUA em 2003, e condenado à morte em 2006. A informação foi retirada do texto.
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