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Tales Faria

Para o PCdoB, o assédio do PT a Flávio Dino visa tirá-lo do jogo em 2022

18.jan.2020 - O ex-presidente Luiz Inácio Lula (PT) tem se encontrado com o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), para discutir as eleições de 2022 - Ricardo Stuckert/Instituto Lula
18.jan.2020 - O ex-presidente Luiz Inácio Lula (PT) tem se encontrado com o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), para discutir as eleições de 2022 Imagem: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Colunista do UOL

29/01/2020 04h00

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É grande a irritação no PCdoB com o assédio do PT ao governador do Maranhão Flávio Dino.

Tudo começou com uma entrevista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos jornalistas Juca Kfouri, José Trajano, Talita Galli que foi ao ar no último dia 15 pela TVT.

Lula admitiu a possibilidade de apoiar a candidatura de Flávio Dino à Presidência, mas ponderou:

"Eu gosto do Dino, acho ele uma figura competente, um companheiro da maior lealdade comigo em todo o meu processo. Tenho por ele um apreço extraordinário. Agora, veja, o PT é um partido muito grande comparado ao PCdoB. (...) É muito difícil imaginar eleger alguém de esquerda sem ser do PT."

Logo surgiu uma série de especulações de que se o governador do Maranhão poderia sair do PCdoB para concorrer à Presidência pelo PT com o apoio de Lula.

A manobra já foi feita em Brasília, nas eleições de 2010. Envolveu o ex-deputado Agnelo Queiroz, um político do PCdoB então em vertiginosa ascensão no Distrito Federal (depois ele foi cassado, mas isso é outra história).

Agnelo teve que se transferir para o PT a fim de concorrer a governador com o apoio dos petistas. Venceu, mas deixou os comunistas irritados por serem obrigados a abrir mão de sua filiação.

Um encontro de Lula com Flávio Dino no dia 18 aumentou as especulações. Desta vez, de que Lula já teria convidado Dino para entrar no partido acenando com a possível candidatura.

A desconfiança tomou conta do PCdoB: os petistas querem fazer com Dino o mesmo que fizeram com Agnelo, tirar do partido um quadro em ascensã, apenas para acabar com a possibilidade de o PCdoB lançar uma candidatura competitiva.

Ao blog, o ex-ministro do Esporte no governo Lula e ex-líder do PCdoB na Câmara, deputado Orlando Silva (SP), deixa claro:

"Flávio Dino é a novidade da política brasileira, não apenas da esquerda. Foi juiz, deputado e é governador. Conhece os três poderes. Tem sólida formação cristã, e densa base cultural. A capacidade política e gerencial já foi demonstrada. É um excelente candidato a presidente. Mas, é comovente, digamos assim, o interesse do PT em apoiá-lo. Na verdade, querem tirá-lo do jogo, dar um 'abraço de urso'. No nosso candidato."

Abraço de urso, como se sabe, é mortal.

Daí porque Lula correu ao Twitter para desmentir, nesta terça-feira, que tenha convidado Dino para o PT:

Mas a brigalhada já estava montada.

No mesmo dia Emir Sader, um dos principais intelectuais do PT, postou no Twitter que os comunistas querem repetir os três anos da pré-candidatura de Manuela D'Ávilla a presidente em 2018 que acabou não vingando:

Orlando Silva respondeu no Twitter que é "cara de pau do PT" propor aliança:

No PT, a versão é de que a reação feroz de alguns comunistas ocorre porque o PCdoB namora a hipótese de uma coligação mais ao centro do espectro político em 2022.

Entenda-se por mais ao centro desde o PDT, de Ciro Gomes, aos partidos do chamado Centrão, liderado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), passando pelo apresentador de TV Luciano Huck, o que incluiria o Cidadania e até o PSDB.

Orlando Silva é hoje a principal ponte do PCdoB com o Centrão de Rodrigo Maia.

Mas isso é outra história...