Bolsonaro entra no modo 'tudo ou nada' e assusta militares, Congresso e STF
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O que há de comum entre o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP)?
Primeiro: que os quatro são muito próximos entre si e mantêm contato constante, especialmente nas últimas semanas.
Depois, que, desde o início da pandemia provocada pelo coronavírus, todos eles têm a mesma avaliação sobre o grande número de mortos que a Covid-19 deve causar no Brasil.
Assim como preveem tempos muito difíceis para o país nos próximos meses, ou anos, por conta da paralisação da economia e do desemprego.
Por fim, Toffoli, Fernando Azevedo, Maia e Alcolumbre também têm em comum que adotaram postura defensiva e cuidadosa, nos últimos dias, em relação aos gestos do presidente da República de apoio às manifestações contra o Congresso e o STF.
Rodrigo Maia, por exemplo, baixou o tom, nos últimos dias, nas críticas que vinha fazendo a Bolsonaro.
Davi Alcolumbre decidiu mediar, e conseguiu, um acordo entre o Ministério da Economia e a Câmara para aprovação do projeto de socorro aos estados durante a pandemia.
Toffoli, que considera Alexandre de Moraes o ministro com quem mantém maior intimidade no STF, tem deixado claro nos bastidores da Corte discordar da decisão do colega que impediu a posse de Alexandre Ramagem como diretor da Polícia Federal.
E o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, soltou nota nesta segunda-feira, 4, contra as agressões a jornalistas ocorridas no domingo durante manifestação bolsonarista em Brasília. Mas aproveitou para mandar recados tanto a Alexandre de Moraes como a Bolsonaro.
Para Bolsonaro, a nota avisa: "As Forças Armadas estarão sempre ao lado da lei, da ordem, da democracia e da liberdade."
Para Alexandre de Moraes, diz o documento do ministro da Defesa: "Marinha, Exército e Força Aérea são organismos de Estado, que consideram a independência e a harmonia entre os Poderes imprescindíveis para a governabilidade do País."
Bolsonaro tem argumentado que o ministro do STF feriu a harmonia entre os poderes ao intervir na nomeação do chefe da PF.
E por que Toffoli, Azevedo, Maia e Alcolumbre resolveram baixar a bola?
Porque, nas suas conversas, os quatro concluíram que Bolsonaro cometeu erros de avaliação sobre a dimensão da crise do coronavírus.
Esses erros foram agravados quando ele decidiu bater de frente com seu então ministro da Saúde, Henrique Mandetta, demitindo-o.
Na avaliação dos mandatários da Câmara, da Justiça e das Forças Armadas, a crise da Saúde aliada à paralisação da economia tendem a ser fatais para o principal projeto do presidente: sua reeleição em 2022.
E isso está levando Bolsonaro a uma radicalização perigosa, que foi evidenciada no rompimento com o ex-juiz Sergio Moro, também afastado do comando da pasta da Justiça.
Agora Bolsonaro se volta para outra integrante de sua equipe que também era considerada intocável: a secretária de Cultura, Regina Duarte. Ele readmitiu nesta terça-feira Dante Montovani como presidente da Fundação Nacional de Arte (Funarte), cargo do qual fora afastado para a secretária tomar posse.
A suspeita é que Bolsonaro tenha ligado o modo 'tudo ou nada'. O presidente tem dado sinais disso, nas suas falas durante as manifestações de bolsonaristas. Já disse que "chegou ao limite" e que quase decidiu por "uma crise institucional".
O "tudo ou nada" de Bolsonaro não interessa aos chefes do Legislativo e do Judiciário. E o comando militar não gostaria de ser lançado a uma aventura. Daí os recuos: não dar motivo ao presidente para lançar seus radicais contra as instituições.
E tentar segurar o andor até quando der...
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