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Tales Faria

Bolsa Família ampliado de Bolsonaro é estratégia para encurralar a oposição

Chefe da Sucursal de Brasília do UOL

20/08/2020 12h41

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O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem lembrado a seus interlocutores que, muito antes do petista Eduardo Suplicy, o ultraliberal Milton Friedman já defendia um projeto de renda mínima para a população.

O argumento serve para explicar porque está estudando ampliar e prorrogar o auxílio emergencial e até transformá-lo definitivamente em um Bolsa Família ampliado, de cerca de R$ 300.

Hoje o benefício básico do auxílio criado pelo ex-presidente Lula é de R$ 41 a R$ 89 por pessoa, podendo chegar no máximo a R$ 205 por família de baixa renda.

O Bolsa família, segundo a Caixa Econômica Federal, atende a 13,9 milhões de famílias. O Renda Brasil de Guedes e Bolsonaro planeja chegar a 21 milhões de famílias.

Enfim, se o auxílio emergencial que o Congresso deu de bandeja a Bolsonaro fez a popularidade do presidente crescer em meo à pandemia do coronavírus, imagine o que pode fazer um Bolsa Família maior e atingindo 21 milhões de famílias.

Bolsonaro, que sempre foi contra o programa petista e nem sequer citou ajuda aos trabalhadores em seus discursos de posse, agora está maravilhado com a ideia. Daí ter pedido a Guedes uma solução.

O ministro deve embrulhá-la num pacote de aumento de impostos e corte de gastos públicos antes de jogar no Congresso.

A base bolsonarista, incluindo o centrão, naturalmente vai festejar. Terá discurso para aumenar impostos e cortar benefícios em troca desse novo projeto para o povão, o tal Renda Brasil.

A bomba cairá mesmo no colo da oposição. E o que PT, PCdoB, Rede, PSol, PSB, PDT, etc farão? Será que os partidos de centro esquerda negarão aprovar a um projeto que aumenta a renda básica de 21 milhões de famílias?

Mas, se não negar? Vão dar de mão beijada ao presidente Bolsonaro mais um instrumento de propaganda para ele usar na campanha eleitoral de 2022?

Perguntei aos líderes de oposição como sair desse beco sem saída.

Bem, eles já prepararam projetos alternativos. Fundamentalmente, ampliando o valor do benefício do Bolsa família e o número de pessoas atingidas.

É mais ou menos o que o governo também estuda. O embate em plenário será em torno da troca de nome, dos valores e das fontes de financiamento, impostos, cortes, etc.

Mas, então, a oposição vai acabar sendo obrigada a dar esse presente ao governo?

O líder da Minoria no Senado, Randolfe Rodrigues, me disse que, se não conseguir aprovar o projeto alternativo, a oposição votará no texto do governo.

Randolfe admitiu que é um beco sem saída e argumentou: "Nós temos que ter coerência. A pauta dos mais pobres sempre foi defendida pela oposição."

É o mesmo que dizem os demais líderes oposicionistas. O deputado Alessandro Molon, do PSB argumenta: "Somos oposição ao governo, não ao Brasil."

É verdade, mas é o governo Bolsonaro que vai entregar o dinheiro na mão do eleitor. Será difícil para seus opositores explicarem os detalhes ao eleitorado mais pobre.

Realmente, deveremos assistir a uma disputa interessante no Congresso por conta dessa história.