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Tales Faria

2022 começou agora com os pronunciamentos de Lula e Bolsonaro

Chefe da Sucursal de Brasília do UOL

08/09/2020 13h51Atualizada em 15/10/2020 18h24

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Teve todos os ingredientes de uma peça de campanha eleitoral no layout, bem ajeitado, e nos termos do discurso divulgado nesta segunda-feira pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em que ele leu uma carta aberta aos brasileiros.

Lula falou durante 23 minutos como um possível candidato à Presidência da República.

No mesmo 7 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro fez uma manifestação formal e insípida, de pouco mais de 3 minutos, em comemoração ao Dia da Independência.

Lula partiu para o ataque. Colocou o dedo nas chagas abertas pelo mau combate do governo à pandemia do coronavírus, à desinformação, à negação da ciência, à destruição do meio ambiente e, sobretudo, à política econômica do combalido Posto Ipiranga do presidente, o ministro Paulo Guedes.

Bolsonaro parecia acuado. Jogou na defesa, lendo, titubeante, um discurso que claramente não foi escrito por ele, não tinha o seu tom, sua agressividade costumeira.

O traço bolsonarista ficou apenas no ataque ao que chamou de "sombra do comunismo", que teria tomado conta do país nos anos 60.

O Bolsonaro do pronunciamento tentou posar de estadista, falando em temas que não lhe são muito comuns, como a preservação da Constituição e da democracia.

Temas que ele passou a abraçar nesta nova fase Paz e Amor, inaugurada depois que Fabrício Queiroz foi preso, apareceram novos cheques do ex-assessor na conta da hoje primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e aumentaram as acusações de envolvimento de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro, num esquema de rachadinhas da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

Em seu discurso de possível candidato, Lula chegou a declarar: "Eu me coloco à disposição do povo brasileiro, especialmente dos trabalhadores e dos excluídos."

Aí persiste a grande dúvida: isso é bom ou ruim para ele próprio, para o PT e para as oposições?

No PT, uma eventual candidatura de Lula empana qualquer outro candidato do partido. É quase como um soco no nome hoje mais provável, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad.

Soa como uma ameaça aos demais partidos de esquerda: "olha, posso sair candidato e não haverá espaço para Ciro Gomes, Flávio Dino ou qualquer outro nome".

Pode ser a pá de cal na chamada Frente Ampla que alguns nomes da centro-esquerda vêm acalentando.

E, pior, seria a inevitabilidade de uma candidatura à reeleição (hoje já muito provável) do próprio Bolsonaro, com possibilidade de reaproximar o bolsonarismo de setores das chamadas elites econômicas, que andam meio arrependidos do apoio emprestado aos ultraconservadores nas eleições de 2018.

Ou seja, os discursos podem ser a prévia da disputa eleitoral Lula versus Bolsonaro.

Nesse caso, talvez os historiadores do futuro venham a apontar os dois pronunciamentos como o marco inicial da campanha de 2022. Vale conferir.