Topo

Tales Faria

Congresso dará ao 'Jair-sem-braço' mais um empurrão em sua popularidade

Chefe da Sucursal de Brasília do UOL

17/09/2020 11h48

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Bolsa Família ampliada, Renda Brasil, Presente Eleitoral...

Seja qual for o nome que o Congresso vier a dar à continuidade da ajuda emergencial concedida na pandemia, o fato é que Bolsonaro jogou com muita esperteza.

Depois de receber da equipe econômica seguidas propostas de solução para a continuidade do tal do Renda Brasil, o presidente concluiu o obvio:

O dinheiro para o programa sairá dos pobres para os paupérrimos. Ou então virá de um novo imposto, tipo CPMF, que desagrada à classe média e às empresas. Outra possibilidade é simplesmente arrebentar com o teto de gastos do Orçamento e deixar os economistas e o mercado com os nervos à flor da pele.

Ou seja, o novo programa poderia manter sua popularidade por um lado, mas com o sério risco de derrubá-la, pelo outro. Ou mesmo de derrubar seu governo, no caso de descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal.

E o que fez Bolsonaro? Veio a público e disse que não aceita nenhuma das propostas e, portanto, não haveria mais projeto algum do governo.

Em contrapartida, ele recebeu no Planalto o relator do Orçamento no Congresso, o senador governista Márcio Bittar, do MDB do Acre.

E, aí, o que foi mesmo que fez o presidente? Combinou com o parlamentar que o Congresso é fará o novo programa.

Bolsonaro quer repetir o que ocorreu com o auxílio emergencial: o Congresso fez um programa de ajuda durante a pandemia — que distribuiu R$ 600 reais mensais aos mais pobres, contra a vontade da equipe econômica.

Oficialmente o Congresso agiu contra o governo. Mas, quando o dinheiro chegou no bolso de quem precisava, quem se beneficiou foi o presidente.

Sua popularidade disparou, mesmo com todas as besteiras que o governo fez no combate à pandemia. Mesmo com toda a crise econômica e todas as loucuras na área do Meio Ambiente.

O Congresso ficou com o ônus da gastança, e Bolsonaro, com o bônus da doação aos mais pobres.

No caso da reforma da Previdência, também coube ao Congresso assumir o ônus. O Bônus, que teria sido o ajuste das contas públicas, ficaria para o governo.

É isso que o presidente quer que se repita: o Congresso que equacione uma solução para tornar definitivo o auxílio emergencial, evitando a queda de popularidade do governo que viria com o fim do programa.

Ah, mas aí, depois de o Congresso aprovar, digamos que a equipe econômica convença o presidente de que ele não pode sancionar o projeto. Que o texto teria uma ilegalidade aqui, outra ali.

E aí, o que pode fazer Bolsonaro?

Ora, ele segue a lei e veta essas ilegalidades. Mas, candidamente, pede ao Congresso que derrube seu veto.

Afinal, está fazendo exatamente isso no caso da isenção de impostos para as igrejas.

Você já ouviu a história do João-sem-braço? Preguiçoso e enganador, o sujeito escondia os braços, amarrados sob a camisa, para pedir aos outros que trabalhassem por ele.

Pois é. O presidente se chama Jair Bolsonaro. Mas podem lhe chamar de João-sem-braço.