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Tales Faria

Renan e Rodrigo Maia só ajudarão governo se Bolsonaro usar coleira

14.jul.2016 - O ex-presidente do Senado Renan Calheiros (MDB-AL), e presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), jogam juntos desde que Maia assumiu o lugar do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha. - Renato Costa/Folhapress
14.jul.2016 - O ex-presidente do Senado Renan Calheiros (MDB-AL), e presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), jogam juntos desde que Maia assumiu o lugar do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha. Imagem: Renato Costa/Folhapress

Chefe da Sucursal de Brasília do UOL

07/10/2020 04h00

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Não foi por amor ao governo que o senador Renan Calheiros (MDB-AL) promoveu, junto com a sua colega Kátia Abreu (PP-TO), o jantar de reconciliação entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro da Economia, Paulo Guedes.

Renan continua um crítico da gestão e das teses defendidas pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Mas ele é uma velha raposa da política. Desde que o ex-presidente José Sarney se aposentou, Renan assumiu o papel de político mais astuto do Congresso.

Viu na reaproximação de Maia e Guedes a oportunidade para colocar amarras no crescimento da popularidade de Bolsonaro.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, não é velho. Mas já é um dos políticos mais experientes de sua geração, filho de outro político arguto, o ex-prefeito do Rio Cesar Maia.

O presidente da Câmara entendeu perfeitamente onde Renan Calheiros queria chegar e os dois passaram a jogar juntos. O raciocínio é simples:

Bolsonaro e Paulo Guedes precisam do Congresso para aprovar seus projetos, e os políticos não podem simplesmente negar. Mas podem impor condições para a aprovação. E essa negociação só poderia ser feita com a retomada do diálogo entre Maia e Guedes.

O primeiro passo da estratégia foi a reconciliação, com o tal jantar, afagos e pedidos públicos de desculpas.

O segundo passo foi impor condições que não permitirão a Bolsonaro surfar numa onda de popularidade após a aprovação de projetos como a ampliação do Bolsa Família.

Afinal, foi o que o presidente fez com a aprovação do auxílio emergencial de R$ 600 durante a pandemia do coronavírus: o Congresso aprovou o projeto contra a vontade da área econômica e o governo é quem ganhou em popularidade.

Agora não. Maia apareceu com um argumento que o ministro da Economia e o próprio Bolsonaro não podem simplesmente recusar: ele se dispõe a ajudar para que o Congresso aprove o Renda Cidadã que Bolsonaro tanto quer, mas, para isso, o governo terá que "cortar no músculo" e limitar seus gastos ao teto constitucional.

Ou seja, precisará adotar medidas impopulares. E a receita para isso todos sabem. O próprio Bolsonaro tem evitado adotar: são cortes de salários de servidores de diversas categorias, cortes de gastos nas obras públicas que o presidente pegou gosto de inaugurar, cortes na Previdência, cortes em outros benefícios sociais... Enfim todo tipo de medida que tira voto.

Renan Calheiros ainda acrescentou mais algumas pitadas para afastar do presidente o apoio de alguns setores da elite: corte de todos os subsídios a empresas e bancos e fim dos supersalários de juízes, promotores et cetera.

Em outras palavras, Renan e Rodrigo Maia aceitam levar Bolsonaro para passear. Mas só se o presidente aceitar ficar preso na coleira.