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Tales Faria

Vitória do centrão pode atrapalhar Bolsonaro adiante, mas agora ajuda

Chefe da Sucursal de Brasília do UOL

14/01/2021 13h55

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Petistas e parlamentares da oposição, dissidentes ou não, argumentam que podem votar nos candidatos do centrão para o comando da Câmara e do Senado porque esse agrupamento político se alia e depois derruba o governo que apoia. Não estão completamente errados. Mas, neste momento, a vitória do centrão fortalece o presidente Bolsonaro.

E por que esses oposicionistas estão certos, quando avaliam que o centrão se alia e depois derriba os governos que apoiam?

Porque isso vem ocorrendo desde a ditadura militar. Vamos falar a verdade: Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, no velho MDB, e José Sarney, ACM e companhia, no antiga Arena, eram uma espécie de centrão da política.

Serviram, em 1964, para dar uma certa legitimidade ao golpe. Mas depois, cada um a seu modo foi mudando de posição à medida que a corda esticava contra o regime. Uns antes, outros depois. Mas foi isto o que ocorreu.

Na Assembleia Constituinte de 1987, o centrão se institucionalizou como um bloco reunindo PFL, PL, PDS, PDC, e PTB, além de partes do PMDB.

O grupo serviu para dar sustentação ao presidente José Sarney em suas querelas contra o presidente da Câmara, Ulysses Guimarães. Um de seus líderes, o deputado Roberto Cardoso Alves, explicou a união ao governo apelando para a famosa frase de São Francisco: "É dando que se recebe".

Traduziu o espírito do centrão até hoje: reúne políticos de diversas legendas, sem orientação ideológica, que gravitam em torno das benesses dos governos. É com esse toma lá, dá cá que cabalam eleitores em suas bases regionais e se eternizam na política.

O centrão já reuniu de 13 a 15 partidos, hoje, formalmente, é capitaneado pelo PP do deputado Artur Lira (AL) em 11 legendas —muitas das quais não se apresentam como centrão— e inclui parlamentares do DEM e do MDB de Baleia Rossi (SP), com quem Lira disputa a presidência da Câmara.

No Senado, o centrão se reuniu em torno da candidatura do demista Rodrigo Pacheco contra a candidata do MDB, Simone Tebet. Mas tem muitos emedebistas, demistas e tucanos do Senado que também pertencem ao centrão.

Historicamente o grupo sempre teve —e tem— um pé lá e outro cá, usufruindo do presidente e apostando no futuro.

Foi assim que aderiu a Fernando Collor de Mello e depois o abandonou. Que aderiu ao tucano Fernando Henrique Cardoso e depois seguiu de mala e cuia para os petistas de Lula e Dilma Rousseff.

O centrão começou a romper com o PT a partir do episódio do Mensalão, do qual o grupo foi protagonista, como admitiu o ex-deputado Roberto Jefferson, do PTB.

Mas o grupo seguiu com o PT até o governo Dilma, a quem acabou bridando com o impeachment para empossar o emedebista Michel Temer no Planalto.

Bolsonaro foi eleito numa campanha eleitoral em que execrou a política do centrão, a que sempre pertenceu, e seus líderes. Chamou-os de "velha política". Hoje se apoia neles e os apoia para o comando do Congresso.

É graças a essa história que corre solta na oposição a avaliação de que, no "dia D e na "hora H" o Centrão derrubará Bolsonaro.

Daí os petistas se aliarem ao candidato do presidente para o comando do Senado, Rodrigo Pacheco. Na Câmara, o PT está contra o candidato de Bolsonaro, mas com Baleia Rossi, formalmente independente, mas integrante, digamos, desse centrão histórico.

Pode ser que no futuro o centrão empurre o presidente para o fundo do poço, como fez com outros mandatários do Planalto. Mas o fato é que, agora, com o domínio do Congresso, os políticos do centrão são um aceno ao mercado de que haverá boa vontade para aprovar as propostas econômicas de Bolsonaro. Pelo menos nesses primeiros meses.

Isso dá uma força momentânea ao presidente que pode lhe tirar das cordas em que se meteu por conta das trapalhadas na gestão da pandemia e dos bolsonaristas radicais.

E, fora das cordas, nunca se sabe o que Bolsonaro pode fazer.