Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Cerimônia da vergonha no Planalto marcou passagem do bastão da Saúde
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Pela manhã, na agenda oficial do presidente Jair Bolsonaro, nesta terça-feira, 23, só havia um compromisso, às 11h: o encontro com o ministro das Comunicações, Fabio Faria.
Diferentemente do que recomendam as boas práticas de gestão e transparência com a coisa pública, não foi divulgado que o presidente daria posse ao seu quarto ministro da Saúde. Isto em meio à maior crise de saúde pública da história do país que, àquela altura, já ceifara mais de 295 mil vidas de brasileiros.
Saiu o ministro Eduardo Pazuello, que exerceu o cargo como arauto dos preceitos do presidente de combate ao coronavírus com cloroquina, ivermectina e um kit de medicamentos não recomendado pelos órgãos médicos e científicos. Entrou Marcelo Queiroga. Um médico também obediente ao presidente.
O general Pazuello notabilizou-se por afirmar, de público: "Aqui é assim, um manda e o outro obedece." Foi quando recebeu a visita do chefe durante período de recuperação da covid-19.
Ele tomara posse poucas semanas após o afastamento do médico Nelson Teich, que, mesmo discretamente, se recusou a corroborar as atitudes do presidente contra o uso de máscaras e em favor de aglomerações.
Teich, por sua vez, substituiu outro médico, o deputado Henrique Mandetta, que abertamente se opôs ao negacionismo do Palácio do Planalto.
Mandetta deixou o cargo dizendo ao presidente que, se insistisse em negar as recomendações da ciência e da medicina no combate à pandemia, em pouco tempo teríamos dezenas de milhares de mortes no país. Errou, hoje temos centenas de milhares.
O presidente se nega a admitir culpa. Chega a pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) que tire dos governadores a autoridade para decretar medidas de isolamento social em meio à pandemia. Argumenta que não há provas de que elas tenham efetividade.
Nesta terça-feira mesmo, o ministro decano da corte, Marco Aurelio Mello, negou liminarmente o pedido do presidente, como já havia negado outro pedido semelhante antes.
E ainda fez o chefe do Planalto passar mais uma vergonha, prolatando na negativa uma lição de moral:
"Ao presidente da República cabe a liderança maior, a coordenação de esforços visando o bem-estar de todos os brasileiros."
Mas o presidente não se dá por vencido. Para o lugar do general submisso, colocou um médico também submisso. A quem obrigou que declarasse, e repetisse várias antes da posse, que irá manter a política seguida por seu antecessor, que é a política de Bolsonaro.
Pelo menos Queiroga parece sentir alguma vergonha. Preferiu tomar posse em uma cerimônia quase secreta, longe dos holofotes da imprensa.
Quanto a Pazuello, ainda não está claro se ele manterá ou não o foro privilegiado, junto com o presidente da República, contra possíveis responsabilizações pelas mortes de tantos brasileiros.
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