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Tales Faria

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Empresariado conservador troca Bolsonaro por Sergio Moro

Chefe da Sucursal de Brasília do UOL

27/11/2021 12h00

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"Espelho, espelho meu, existe um Jair Bolsonaro melhor do que eu?", costumava se perguntar o presidente da República sempre que trancava a porta do banheiro para se barbear. Mas o espelho nada respondia, e deixava o autoproclamado monarca satisfeito. Eis, no entanto, que nos últimos tempos o espelho tornou-se mágico. E resolveu falar. Saiu com a seguinte resposta: "Sim, presidente, seu ex-ministro da Justiça Sergio Moro tornou-se um Bolsonaro melhor, mais arrumadinho do que o senhor".

Talvez tenha sido depois dessa afirmação do espelho que Bolsonaro começou a chorar escondido no banheiro, como ele próprio revelou um dia desses que costuma fazer.

O espelho mágico dos presidentes são as pesquisas de opinião que suas equipes encomendam. Especialmente as qualitativas. Elas apontam como pensa cada setor da sociedade a respeito de cada assunto envolvendo o presidente da República.

E essas pesquisas qualitativas do Planalto estão apontando que Bolsonaro perdeu pontos não só no eleitorado em geral. O presidente tem perdido pontos, dia a dia, junto a um setor que foi decisivo para sua eleição em 2018: o empresariado conservador do Brasil.

É verdade. Fique sabendo que uma grande parcela do empresariado brasileiro não tem nada de progressista. São empresários conservadores. Alguns menos, outros mais espalhafatosos, como o dono da Havan, por exemplo.

Essa turma tinha certa vergonha de se expor, até descobrir que havia um "Patinho Feio", como ele, na política. E conquistando espaços junto ao eleitorado com alguma chance de chegar lá. Aí os empresários conservadores começaram a aparecer mais e mais. E a contribuir para o fortalecimento da campanha de Bolsonaro — ao vivo ou nas redes sociais.

Juntaram-se ao empresariado conservador os grupos descontentes com o PT e os adeptos da Operação Lava Jato —boa parte deles também conservadores. E Bolsonaro acabou eleito em 2018 como Salvador da Pátria, ou melhor, como presidente da República.

Vale lembrar que, quando apareceu no Irã o aiatolá Khomeini, o cineasta Glauber Rocha surpreendeu a esquerda avisando que algo assim poderia surgir por aqui, pois o brasileiro, segundo ele, tem um espírito messiânico, adora criar um mito.

Juntaram-se o espírito messiânico do brasileiro, os antipetistas, a Lava Jato e o empresariado conservador... e deu no que deu. Temos aí o Bolsonaro, o Mito. O problema é que, no governo, ele cometeu erros demais.

Mas, se você acha que os conservadores desistiram, está enganado. Estão desistindo do Bolsonaro, mas já acharam um novo candidato. Sim, é ele, o ex-juiz Sergio Moro, redivivo das hostes bolsonaristas, mas num figurino menos caricato. Até o "Velho da Havan", em entrevista recente, deu um passo atrás no seu bolsonarismo e declarou amor por Sergio Moro.

Exceto pela voz de pato e uma certa falta de cultura que o faz chamar cônjuge de conge, Moro tem atributos para reaglutinar em torno dos conservadores o empresariado em geral e aquela parcela do eleitorado que estava irritada com o PT. Sem os desgastes na imagem que os erros do governo trouxeram ao presidente Jair Bolsonaro.

Trata-se de um Bolsonaro melhor para os bolsonaristas, que estavam ficando órfãos. Na filiação do general Santos Cruz a seu partido, o Podemos, nesta quinta-feira, Moro começou a seduzir outro grupo que andava abraçado a Bolsonaro, os militares.

Pois é. Parece que o presidente da República ainda vai chorar muito, daqui pra frente, quando se olhar no espelho mágico do banheiro.

Resta saber se o novo Bolsonaro vai se eleger. E se nós também não vamos chorar.