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Bolsonaro defende o torturador Ustra mais do que a liberdade de expressão

Mussolini e Bolsonaro sobre motos e sobre cavalos - Getty Images; Ueslei Marcelino/Reuters; Reprodução; Pedro Ladeira/Folhapress
Mussolini e Bolsonaro sobre motos e sobre cavalos Imagem: Getty Images; Ueslei Marcelino/Reuters; Reprodução; Pedro Ladeira/Folhapress

Colunista do UOL

27/04/2022 20h22

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No livro "Uma breve história das mentiras fascistas", Federico Finchelstein, um historiador argentino que dá aulas nos Estados Unidos, mostra que, ao longo do século 20, muitos defensores das ideologias fascistas e pós-fascistas consideraram mentiras políticas como a verdade encarnada em seu líder.

De Adolf Hitler, na Alemanha, a Benito Mussolini, na Itália, esses líderes com características populistas, como, agora no nosso século, Jair Bolsonaro ou Donald Trump, fazem o mesmo: utilizam a mentira, repetida várias vezes, como base de suas manobras de poder.

Bolsonaro segue o mesmo caminho ao usar a defesa da liberdade de expressão como argumento para evitar a prisão do deputado Daniel Silveira (PTB-RJ).

Tudo bem, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, erra quando desenterra a famigerada Lei de Segurança Nacional e argumenta que o deputado precisa ser punido por atacar as instituições.

Criticar as instituições não é problema. Daniel Silveira tem que ser punido por ameaçar agredir e incentivar agressões físicas a ministros do STF. Mas Bolsonaro dizer que está defendendo a liberdade de expressão é risível, para dizer o mínimo.

Um homem que defendeu a tortura durante a ditadura militar e cujo filho, o deputado Eduardo Bolsonaro, recentemente disse ter pena da jiboia colocada na cela onde a jornalista Miriam Leitão foi torturada, não tem o direito em se colocar como defensor da liberdade de expressão.

Bolsonaro é o grande defensor, na verdade, do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um reconhecido torturador daquele período de ditadura militar a quem o presidente da República continua rendendo homenagens. Ele nunca se arrependeu, nem mudou de ideia e faz questão de continuar defendendo a ditadura. Um dos primeiros atos de seu governo foi receber no Palácio, em Brasília, a viúva de Brilhante Ustra.

A defesa da liberdade de expressão por Bolsonaro se tornou mais uma das mentiras usadas como arma dos pós-fascitas modernos contra a democracia. Contra a liberdade de expressão.

Faz lembrar a distopia de George Orwell, num sobrio "1984" em que o ditador de plantão, o Grande Irmão, criou uma nova língua, a novilíngua, na qual liberdade virou prisão, Ministério da Guerra passou a ser chamado de Ministério da Paz naquela narrativa.

Orwell era um anarquista que escreveu o livro como crítica ao socialismo autoritário da União Soviética numa época em que era pecado um esquerdista criticar o autoritarismo.

Mas parecia antever que Bolsonaro, Nicolás Maduro, da Venezuela, Vladimir Putin, da Rússia, Donald Trump, dos EUA, Xi Jinping, da China, de esquerda ou de direita, os chefes políticos autoritários são todos farinha do mesmo saco. Pouco diferem dos fascistas como projetos ditatoriais que usam a mentira como arma política.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL