Thais Bilenky

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Deputada petista defende 'política analógica' contra poder de redes sociais

Aposta do presidente Lula para a renovação do PT, a deputada federal potiguar Natália Bonavides, de 36 anos, é cética quanto ao crescimento de seu campo político nas redes sociais frente à presença da direita radicalizada nos meios digitais.

Para ela, o "alinhamento explícito" dos proprietários das grandes plataformas ao presidente americano Donald Trump e mudanças nos algoritmos que favorecem determinados perfis de usuários requerem uma estratégia mais diversificada para a esquerda na política.

Na opinião de Bonavides, as cobranças por uma comunicação mais ágil do governo precisam estar associadas à renovação da militância tradicional —"analógica", como ela chama, com contato de rua e envolvimento partidário nos bairros e comunidades.

"Tem os erros da esquerda, sim, de não se atualizar etc. Mas não é só isso", ela afirma.

"Não vai adiantar o governo ter vídeos incríveis que chamem atenção se quem tem controle do algoritmo decidir que aquele conteúdo não vai chegar", analisa. "Esse poder tão grande de quem vai poder massificar ou não uma voz é um problema macro que não importa a pessoa X que esteja cuidando das redes sociais de Lula. É uma discussão que tem que ser feita de forma estrutural."

Natalia Bonavides num cafezinho na Câmara com sua agenda e caderno de papel
Natalia Bonavides num cafezinho na Câmara com sua agenda e caderno de papel Imagem: Thais Bilenky/UOL

Bonavides diz que as plataformas digitais terão cada vez mais poder político, o que vai gerar "um acirramento do desequilíbrio de poder de acesso aos meios de comunicação".

"Qual é o nosso poder real de se comunicar com o povo dependendo de meios cuja decisão sobre em quem minha mensagem vai chegar não depende de mim? Tenho que ter minhas redes boas, muito boas. Mas, se eu só fizer isso, estou me submetendo a qualquer mudança que o Instagram ou o Facebook decida fazer. E, se mudar um algoritmo, vai tirar todo o meu canal de troca virtual com essa população? Se eu só tiver isso, não vou a lugar nenhum."

Jovem, mulher e nordestina, a deputada diz que não pretende fazer disputa política no grito, na arena em que o adversário —a direita radicalizada— está bem posicionado.

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"Vocês conseguiram saber como o vídeo de Nikolas Ferreira teve mais visualizações do que o número de habitantes do Brasil?", ela questionou, em relação à peça exibida pelo deputado do PL de Minas sobre o Pix, que passou de 300 milhões de acessos —a população brasileira hoje é de 212 milhões de pessoas.

"Ah, vão dizer, a gente está em 2025, tem que aprender a usar as redes. É suficiente apostar só nas redes e vídeos mais criativos e conteúdo com potencial maior de engajar se o proprietário dessa empresa consegue decidir para quem meu conteúdo vai ser entregue? Muita gente acha que isso é analógico, do passado. Mas não tem outro caminho se a gente não tem poder sobre as outras formas de comunicação", afirma.

Bonavides foi candidata a prefeita de Natal em 2024 e contou com a disputada e rara presença de Lula no palanque. Ela obteve o recorde de 180 mil votos da esquerda na cidade, não se elegeu, mas levou o PT ao segundo turno pela primeira vez em 28 anos. Para a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), foi uma derrota eleitoral, mas uma vitória política.

Lula participou de comício da campanha de Natália Bonavides para a Prefeitura de Natal em 2024
Lula participou de comício da campanha de Natália Bonavides para a Prefeitura de Natal em 2024 Imagem: Divulgação/PT

No comício, Lula se derramou em elogios à deputada. "A companheira Natália é a melhor criatura política que este estado produziu nos últimos anos. Ela está dando um show de competência e inteligência", discursou.

Bonavides diz se orgulhar do engajamento de rua que a campanha alcançou. "A gente realmente conseguiu fazer uma mobilização na cidade que fazia muito tempo que não era feita. Sem TV e redes teria conseguido isso? Provavelmente não. Mas se tivesse só TV e redes e descartasse essa que é a forma mais antiga [de política nos bairros] também não teria conseguido."

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A geração de Bonavides inclui fenômenos políticos de redes sociais, em especial Nikolas Ferreira, de 28 anos, e o vereador paulistano Lucas Pavanato (PL), de 26 anos. Eles representam "uma direita muito diferente da que o PT enfrentou décadas atrás, mais radicalizada, que topa muito mais ideias que eram consideradas autoritárias e fascistas demais para serem postas no debate público. Agora são tratadas como ideias concorrentes da democracia, que fazem parte".

A disputa de ideias precisa ocorrer continuamente, não apenas em época de campanha, dia a deputada. "A gente defende que o partido [PT] volte a ter um formato de funcionamento que inclua isso nas tarefas cotidianas da militância. Se for deixar para começar trabalho olho no olho presencial na campanha eleitoral não vai ter chance."

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