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Thaís Oyama

A tragédia mais silenciosa do coronavírus

Sem abraços e sem adeus - Getty Images
Sem abraços e sem adeus Imagem: Getty Images

Thais Oyama

Colunista do UOL

20/03/2020 09h24

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Uma amiga relatou um velório a que foi ontem. O homem havia morrido de infarto fulminante, aos 42 anos. A família ficou em dúvida se podia velar o corpo, se a vigilância sanitária permitiria, se havia alguma nova norma sobre o assunto (há: em São Paulo, a prefeitura determinou que as salas funerárias não podem abrigar mais de dez pessoas por vez). Decidiu-se por um velório modesto, reservado, com todas as manifestações físicas de solidariedade e pesar vetadas, para evitar contaminações.

O homem morto deixou mulher, filhos e uma mãe idosa, além de diabética e cardíaca. Ela passou a noite blindada por parentes de contatos que poderiam contaminá-la, fazê-la adoecer e morrer. Isolada em um canto da sala tomada por coroas de flores, fitava o caixão do filho com um olhar perdido e atônito. Sozinha. Nada de abraços para ela.

Na China, os parentes das vítimas que sucumbiram ao vírus têm de cremá-las imediatamente. O mesmo ocorre na Itália, onde há fila para a prática. Se o doente morreu no hospital, seus familiares o viram pela última vez quando ele deu entrada no pronto-socorro, já que toda visita aos pacientes de Covid-19 está proibida.

O coronavírus inaugurou a morte sem abraços nem adeus.