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Thaís Oyama

O Centrão agora é governo e o governo está como o diabo gosta

Colunista do UOL

26/05/2020 20h21

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Agora é pra valer: o Centrão é a base oficial de apoio do governo Bolsonaro. A primeira reunião formal conduzida na segunda-feira pelo líder do governo na Câmara dos Deputados, Major Vitor Hugo, com líderes do grupo selou as bodas a que apoiadores do presidente nunca imaginaram que fossem assistir.

A partir de agora, integrantes do Progressistas, Republicanos, PL, PRB, Patriota, PSC, PTB, PSD, Avante e PROS cerram fileiras com Bolsonaro para 1) blindar o ex-capitão da ameaça de impeachment; 2) fazer o novo presidente da Câmara; e 3) apoiar pautas de interesse do Executivo.

Saiu caro o casamento. A FNDE, com seu orçamento de 55 bilhões de reais, foi para a turma do mensaleiro Valdemar Costa Neto. O grupo do réu na Lava Jato Artur Lira ganhou o Dnocs, cobiçado por "furar poço", na pragmática definição de Severino Cavalcanti, sabedor de quantos votos vale um manancial de água potável no semiárido.

Banco do Nordeste, Dnit e Codevasf entraram no rolo — assim como a Sudene, esta prometida (na surdina e no varejo) para um tucano com base eleitoral no Nordeste.

Com a contratação do Centrão a peso de ouro, Bolsonaro adquiriu uma blindagem temporária e desidratou os poderes do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, cuja fala macia do pronunciamento de hoje provocou aplausos entusiasmados dos mais recentes aliados do presidente.

Mas observadores calejados do Congresso arriscam dizer que, junto com seus novos amigos, Bolsonaro trouxe para dentro do governo um rastilho de pólvora que em breve iluminará o céu tal e qual uma noite de São João.

Contribuem para a realização da profecia, a fome atávica —e momentaneamente contida— do grupo que ora estreia no poder, e as contingências da pandemia, que tornaram licitações e outros mecanismos de controle de gestão luxos impossíveis.

O Centrão agora é governo e o governo está do jeito que ele gosta.