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Thaís Oyama

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Salve-se quem puder: Bolsonaro está convencido de que é a voz do povo

O presidente Jair Bolsonaro: vox populi - Alexandre Neto/Photopress/Estadão Conteúdo
O presidente Jair Bolsonaro: vox populi Imagem: Alexandre Neto/Photopress/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

26/02/2021 10h50

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A maioria dos brasileiros (61%) apoia a ideia de o presidente Jair Bolsonaro interferir na Petrobras para baixar o preço da gasolina.

Pesquisa divulgada hoje pela revista Exame, feita em parceria com o instituto Ideia Big Data, mostrou ainda que a rasteira dada pelo ex-capitão na petroleira, cujo presidente ele mandou degolar por ter reajustado o valor dos combustíveis, tende a aumentar a sua popularidade junto a apoiadores.

Entre bolsonaristas, é de 74% a parcela de entrevistados que diz concordar com a interferência presidencial que derrubou as ações da Petrobras e fez despencar todos os índices de confiança no Brasil.

Bolsonaro vai se entusiasmando com a ideia de que é a voz do povo —e de que o "povo" está com ele.

Ontem, disse que o governo deve fechar em 250 reais o valor da nova rodada do auxílio emergencial. Paulo Guedes queria 200 reais. Mas o ministro da Economia parece estar se acostumando a perder.

Guedes ainda tenta fincar o pé na determinação de só encaminhar ao Congresso a proposta da nova rodada de auxílio depois da aprovação da PEC emergencial.

Essa PEC (Proposta de Emenda Constitucional) tem duas frentes principais: a primeira cria um mecanismo permanente de liberação de gastos em casos de situações de calamidade. E a segunda projeta um arcabouço fiscal que tem como propósito enfrentar essas calamidades sem trazer incertezas jurídicas sobre a manutenção do teto de gastos.

Só que a votação da PEC já foi adiada para março e, pelo andar da carruagem, o risco é de que se configure o que, para a equipe econômica, seria o pior dos mundos: seu desmembramento em duas partes, com a aprovação do mecanismo para a liberação de gastos, mas o adiamento da votação do aperfeiçoamento do arcabouço fiscal. Essa segunda parte ficaria para as calendas, deixando pelo caminho um rastro de incertezas fiscais.

Se isso ocorrer, o golpe pode ser fatal para o já combalido, desgastado e desmoralizado Paulo Guedes.

Seu chefe, no entanto, não sentirá o baque. Os números que interessam hoje a Jair Bolsonaro são outros.

O Palácio do Planalto monitora dia a dia as pesquisas de opinião e constata o óbvio: a popularidade do presidente sobe quanto mais ele gasta e manda "o pessoal do lucro que não tem coração" baixar preços.

O populismo pressupõe a eliminação de qualquer complexidade, incluindo as econômicas.

Nele, Bolsonaro achou o seu atalho: ele é o povo e não hesitará em fazer qualquer coisa para o "povo" continuar com ele.