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Thaís Oyama

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

"Descobri que tinha um câncer incurável aos 32 anos"

Colunista do UOL

31/05/2022 04h00

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Esta é parte da versão online da edição desta segunda-feira (30) da newsletter da Thaís Oyama. Na newsletter completa, apenas para assinantes, a colunista traz a primeira parte do depoimento da jornalista Ana Michelle Soares, que recebeu diagnóstico de câncer aos 28 anos. Ela fala sobre o medo que sentiu de ficar careca, infértil e perder o marido, e descreve o momento em que entendeu que a sua doença não teria cura. Para receber o boletim e ter acesso ao conteúdo completo, clique aqui.

"O médico falou e eu caí no choro: vou morrer e ainda perder o marido antes"

Num dia de 2009, fomos eu e meu marido correr de kart com uns amigos. Na volta para casa, resolvi tomar um banho pra me livrar daquele cheiro de combustível.

Quando comecei a me ensaboar, senti uma coisa dura no seio. Na hora, pensei que pudesse ter batido o peito no kart. Eu tinha tomado banho de manhã e não tinha nada daquilo

(...) Na consulta, o médico falou: "Você está com câncer e é invasivo, o que significa que temos uma certa urgência de resolver. Você vai ter de fazer quimioterapia e provavelmente terá de passar por uma mastectomia".

Fiquei olhando para a cara dele, sem entender direito o que estava acontecendo. Minha ficha só caiu quando ele disse: "Vamos tentar fazer a preservação da sua fertilidade porque a quimioterapia pode deixar a mulher infértil e provavelmente você não vai poder ter filhos depois".

Aí eu caí no choro. Lembrei de todo o contexto do meu casamento e pensei: "Fodeu. Tô cagada, na merda, vou morrer e ainda perder o marido antes" (...)

Na volta da Disney, a doença voltou. Só que agora era incurável

Fiz seis meses de tratamento. Quando acabou, fomos comemorar na Disney, que era um sonho meu conhecer. Eu dizia pro Luiz que eu acreditava em fadas. Tenho esse lado independente e tal, mas adoro filme da Disney, adoro "Crespúsculo", tudo que é filme bagacentinho eu acho o máximo, choro.

Na Disney foi ótimo, maravilhoso, mas na volta tive a certeza de que o Luiz estava me traindo. Depois de muita briga, decidimos nos separar. E nesse processo de separação, descobri que estava doente de novo. Só que desta vez era incurável.

O nódulo hepático apareceu num exame de rotina. Quando peguei, já estava com 5 centímetros e meio. Mandei para o médico e ele pediu uma ressonância do abdômen superior. Pensei: "Acho que a minha batata está assando de novo". Fui com meu cunhado fazer a ressonância. Entrei na máquina e as lágrimas começaram a escorrer: "Vou morrer sem ter vivido uma história de amor. Justo eu que assisto "Crespúsculo", que adoro Titanic, que acredito em fadas. Eu queria uma história de amor. E não vou ter".

(...)

Aí veio a biópsia, quimio, tudo de novo. Eu tinha esperança de que o nódulo iria sumir. Mas depois de três meses, quando terminaram os ciclos de quimio, o médico disse que iria mudar o protocolo para "manter essa resposta". Eu perguntei:

- Mas quantas sessões mais eu vou ter de fazer?

- Não tem "quantas". Se você conseguir ficar com essa medicação, ótimo. Tem que ir fazendo.

Foi nesse dia que eu entendi a dimensão do que estava acontecendo. O médico preencheu a papelada da mudança de medicação e tinha lá três quadradinhos pra escolher: paciente "adjuvante", paciente não sei mais o quê, e "paciente paliativo".

Ele fez o x no paliativo.

Foi a primeira vez que eu vi essa palavra.

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