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Thaís Oyama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Discurso mostra Bolsonaro cansado, ressentido e com medo de perder

Colunista do UOL

15/06/2022 11h30

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"Eleição para presidente é que nem self service: não adianta pedir camarão se não tem camarão; cordeiro, se não tem cordeiro. É o que tem na mesa", explicou Jair Bolsonaro ontem para uma plateia de empresários em São Paulo.

Completou o presidente: "Em estando na mesa, você vai ter de escolher o [prato] melhor ou o menos pior. E assim foi feito em 2018: eu ganhei".

Jair Bolsonaro sabe que nunca foi nenhum pernil de cordeiro — e os números das pesquisas eleitorais que recebeu nos últimos dias confirmam que muitos brasileiros concordam com ele.

Mas, no entender do presidente, ser a bandeja de arroz com passas no balcão do self service não justifica as injustiças que vem sofrendo.

Sua vida, para quem não sabe, está longe de ser "um mar de rosas". Até a "esposa é processada por aparecer falando do Dia das Mães" e, na economia, tudo que acontece de ruim é culpa dele.

Agora, por exemplo, querem que decrete o fim da guerra na Ucrânia e resolva os problemas do mundo, quando ele já está "cheio de problemas aqui no Brasil" para resolver.

A fim de provar que tem se esforçado, Bolsonaro apresentou à plateia um inventário de feitos — a bem dizer, modestos como ele.

Por exemplo: hoje, pode-se abrir uma empresa no país em dois dias; ele está inaugurando uma ponte muito grande (497 metros); e vejam a extensão do novo aeroporto de Foz do Iguaçu — enorme também.

Além disso, seu governo está "ultimando uma negociação" para "praticar a piscicultura no Lago de Itaipu" e para quem pensa que isso é tudo, aqui vai mais uma: "Há três semanas, fomos campeões na França de um torneio estudantil, onde 29 países se fizeram presentes", jactou-se (o presidente se referia ao Mundial Escolar de Gymnasiade, campeonato esportivo em que o Brasil, na verdade, conquistou o segundo lugar, já que o primeiro ficou com o anfitrião). Em resumo, "é um pais que está dando certo", concluiu.

A frase não convenceu muita gente e nem mesmo Bolsonaro pareceu acreditar nela. Segundo afirmou já no final do discurso, ele não "tinha nada para estar ali", no cargo de presidente.

Nunca teve "obsessão" por isso e resolveu disputar a presidência só porque estava "cansado" de ser deputado federal e queria sair da política "honrado, por cima", desculpou-se. Diante das pouquíssimas chances que tinha, e dos sinistros poderosos que enfrentou, como o atentado a faca, só pode concluir que sua vitória não é obra do homem.

"Deus botou a mão sobre o Brasil".

Não é a primeira vez que Jair Bolsonaro apela à tática.

Como fez na pandemia e na economia, tenta creditar a outros a culpa pelas desgraças do país —neste caso, a eleição de um presidente inepto e que, correndo o risco de ver seu adversário levar no primeiro turno e ser despejado do Palácio do Planalto com quatro inquéritos nas costas, agora se mostra cansado, ressentido e apavorado pelo medo de perder.