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Thaís Oyama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro recupera voto de "arrependidos" e alvo da campanha agora é Janja

Colunista do UOL

11/08/2022 11h53

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Um dado inédito da pesquisa Genial/Quaest divulgada hoje impressiona pela loquacidade e pela consistência.

Ele diz respeito ao "bolsonarista arrependido" de São Paulo.

Em março deste ano, apenas 47% dos paulistas que votaram em Jair Bolsonaro em 2018 diziam pretender votar novamente nele nestas eleições. Os demais engrossavam a multidão de "bolsonaristas arrependidos" que se distanciaram do ex-capitão sobretudo a partir de 2020, quando teve início a pandemia de coronavírus.

Na pesquisa de ontem da Quaest, porém, essa porcentagem — dos eleitores de São Paulo que votaram em Bolsonaro em 2018 e neste ano pretendem votar nele outra vez— cresceu para para 64%, um aumento de 17 pontos percentuais em cinco meses.

"Significa que um grande número de eleitores que Bolsonaro havia perdido está voltando para ele, e de forma crescente e consistente", afirma Felipe Nunes, cientista social e diretor da Quaest.

Para o pesquisador, essa volta do "eleitor perdido" para Bolsonaro é resultado de três fatores: 1) o conjunto de ações do governo na economia, incluindo a distribuição do Auxílio Brasil; 2) o fortalecimento, causado pela proximidade das eleições, do antipetismo que desde 2006 faz o partido do ex-presidente Lula perder em São Paulo; e 3) as investidas da campanha bolsonarista para aumentar a penetração do presidente junto ao eleitorado evangélico.

Nesta semana, a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, compartilhou um vídeo em que o ex-presidente Lula participa na Assembleia Legislativa da Bahia, em Salvador, de uma cerimônia de candomblé — uma das religiões de matriz africana que uma parcela de evangélicos, principalmente das denominações pentecostal e neopentecostal, associa a expressões malignas.

A exploração dessa crença pelo bolsonarismo, iniciada com o post da primeira-dama, tem agora como alvo a mulher de Lula, a socióloga Rosângela Lula da Silva, cuja foto cercada de símbolos da umbanda passou a circular desde ontem à noite entre grupos de evangélicos no WhatsApp.

O bolsonarismo está disposto a transformar as eleições numa guerra religiosa e a má notícia para o Brasil é que, a cada nova pesquisa, fica claro que a tentativa vem surtindo efeito.